As civilizações Gregas e Romanas acreditavam que o inferno era um mundo subterrâneo que só podia ser acessível pelos mortais por portas especiais á superfície.
No livro “Hell’s Gate”, de Laurent Gaudé o inferno é tanto um estado de mente como também um lugar. Como personagem principal, Matteo, um taxista de cidade, sente-se no inferno depois de seu filho ter sido morto nos seus braços por uma bala perdida no meio de um tiroteio. Este culpasse sempre pensado que se tivesse parado para atar o seu atacador, se de manha nao tivesse apressado o filho para ir para a escola, se tivesse arranjado segundos para tirar o filho da área de perigo ele teria sobrevivido…
Matteo e Giuliana, sua mulher, sofreram bastante com a perda, ele conduzia todas as noites no seu táxi, sem levar ninguém no banco de trás, mas a mulher queria vingança, e foi isso que pediu ao marido, este tentou, e localizou o chefe do gang que causou o tiroteio, mas nao teve coragem de o matar, ao contar isso à mulher esta deixa-o e insulta a sua fraqueza e amaldiçoa todos os pais por falharem na proteção dos filhos.
Matteo estava a perder a esperança na vida, até conhecer o Professor Provolone,e a sua ideia de que há uma maneira de reaver o seu filho. Para isso, Matteo tinha de acreditar que existia um mundo subterrâneo que um humano podia entrar e sair.
“For the first time in a long while Matteo felt happy. He looked at his strange companions: a disgraced professor, a transvestite, a mad priest and the easy-going owner of a café. He wanted to share a meal with these men, to listen to what they had to say, to stay with them in the dim light of the little room, far from the world and its grief.”
Determinado a encontrar o seu filho este, juntamente com o Padre conhecido na história, entrou pelo Porta de Naples. Tiveram de atravessar muitos obstáculos descritos no livro, uma visão de inferno bastante familiar no mundo da arte, com sombras de figuras humanas numa paisagem de doença, portas com rostos desfigurados pelo horror sentido, com risos de dor permanente sem dentes, uma espiral da morte, um rio de lágrimas, e outros cenários de horror.
Que o menino Pippo seja resgatado não é uma surpresa por culpa da estrutura do livro. Hell's Gate realmente abre com um adulto Pippo inclinado à vingança que seu pai não conseguiu executar. São 20 anos após a viagem de Matteo ao submundo e Pippo agora é um barista com a habilidade estranha de inventar exatamente a mistura certa para cada personagem dependendo do seu humor. E na ultima noite, e com o seu último no café, ele prepara-se para assassinar seu assassino Cullaccio. Ele aborda sua tarefa sem medo:
“I’ve already been to hell – what could possibly be scarier than that? All I have to ward off are my own nightmares. At night, the blood-curling cries and groans of pain come flooding back. I smell the nauseating stench of sulphur. The forest of souls surrounds me. …. Other people might call them nightmares but they’re wrong. I know what I see is real – I’ve been there.”
O livro é organizado por capítulos alternados pela narrativa de Pippo, em 2002, e de seu pai em 1980.
Mesmo não acreditando no inferno, este livro é algo intenso, cheio de mistérios e fantasmas da realidade. A história fala sobre o efeito devastador que a morte de um ente querido pode ter na vida das pessoas, mas não é um típico livro que pretende ensinar-nos a lidar com a dor, antes descreve a eterna vontade que temos de poder voltar a rever quem perdemos e de, muitas vezes, reparar a injustiça que essa impossibilidade traz consigo. É uma história forte, cheia de momentos de reflexão a juntar a elementos fantásticos/de terror. A descida ao Inferno é particularmente impressionante, e apresenta uma visão muito negativa da transição das almas para a paz eterna. Laurent Gaudé da forma e caráter às personagens, mas critico a forma como as personagens secundárias não foram desenvolvidas como o leitor gostaria, no entanto falasse sobre a morte e a perda, onde os protagonistas tentam contrariar a inevitabilidade das mesmas.
Tal como em outras das suas obras, Gaudé apresenta-nos pessoas levadas ao limite nas suas vidas, só que desta vez sai do mundo do real.
Concluído, a mensagem que pode ser retirada deste livro é que só morre quem é esquecido, e os mortos neste romance só desaparecem quando são esquecidos de vez. Entretanto, aguentam-se numa espiral de desespero, agarrados a qualquer lembrança que um vivo possa ter que os salve por mais alguns momentos do extermínio irremediável.
