quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Unemployable


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Título: Unemployable
Autor: Jason Boulter             
Editora: Thames e Hudson
País: Austrália


Sou skater AMADOR (no mais estrito sentido da palavra e para desespero inicial dos meus pais), não daqueles que procura o exibicionismo pelas manobras arrojadas, a rapariga mais “in” ou fazer parte de grupos que, pela sua indumentária, vocabulário grosseiro e comportamento desviante, são os “heróis” lá do seu bairro. Não, eu e a minha tábua procuramos a liberdade do momento, “rasgar o alcatrão” sem pensar em mais nada, fazer “piruetas” que o meu pouco jeito me permite!
Sempre me interessei pela prática deste desporto e por tudo aquilo que o rodeia, procurando todo o tipo de informação acerca do mesmo. Aprecio, sobretudo, a parte estética /artística do movimento dos atletas e do meio envolvente, captados por fotografias fabulosas, bem como da reinterpretação das tábuas usadas por alguns skaters (eu próprio pinto as minhas lixas, personalizando-as). Sou leitor assíduo das revistas da especialidade – a “Surge”, a “Skateboard Magazine” e a "Thrasher Magazine" -, visito, sempre que é possível, a exposições de skate (com o objetivo de divulgar trabalhos e estimular e projetar a interação entre a modalidade do skate e todos aqueles que, pelo seu engenho e dedicação se vão destacando na área artística do momento…designers, artistas plásticos…). Sou, igualmente, interessado pelo percurso pessoal e profissional de algumas individualidades do Skate, entre os quais Rodney Mullen (engenheiro biomédico, empresário, inventor, orador, skateboarder). Foi através deste que “esbarrei” com a obra Unemployable, pois Rodney escreveu o seu prefácio. Juntei o útil ao agradável: sempre gostei de ler e, além disso, “caiu do céu”, pois eu necessitava de fazer uma exposição oral na aula de Inglês! Estava ciente que não iria apresentar uma obra da magnitude de, por exemplo, As vinhas da ira, de John Steinbeck, mas decidi correr o risco e, em boa hora, o fiz: consegui prender a atenção dos meus colegas e da professora, mas aposto que não foi pelas minhas qualidades de orador, mas sim pela surpreendente mensagem e narrativa aliciante da obra.
A história verídica de Unemployable remonta à subcultura dos anos 70 do século passado, na Austrália, e tem como personagens os irmãos Hill - Stephen, Peter e Matt -, apaixonados pelos desportos radicais, entre os quais, o Skate.
A narrativa é surpreendente e motivadora e obriga-nos a refletir que muitos desaires não têm nada a ver com crises económicas, falta de emprego, poucas oportunidades, ou azares da vida, mas exatamente o oposto. Como dizem os próprios irmãos Hill no início da obra, o título veio mesmo de uma palavra usada por eles na altura em que sentiam necessidade de criar algo novo, visto que não se reviam como parte do sistema vigente ou tão pouco se conformavam com regras estabelecidas. Este é um retorno de uma verdadeira “epopeia” iniciada há mais de 30 anos pelos irmãos Hill na Austrália, bem longe da costa californiana.
Estes três irmãos criaram uma das maiores empresas de skate e surf da atualidade – a Globe International-, e são reconhecidos pelos seus pares e concorrentes como exemplos, sempre fiéis às suas raízes e aos valores que cultivavam, desde que aos 13 anos formaram o seu primeiro grupo de skaters num subúrbio de Melbourne. Hoje em dia, são conhecidas as suas marcas e o impacto que têm no mundo do skate (e não só): Globe Shoes, Almost Skateboards, Cliché, Darkstar, Blind, Enjoi…mas, de certeza, que poucos têm conhecimento que alguns dos mais influentes skaters mundiais também saíram do “forno” onde estes três irmãos “cozinhavam”. Como eles próprios afirmam, quando se acredita nas pessoas e elas confiam no sujeito, essa premissa de relacionamento dá-nos mais bases para evoluir no agora competitivo mundo do skate e do surf. Essa sua visão levou a que algumas lendas do skate mundial, como Rodney Mullen, ou Lance Mountain, tenham confiado neles para casos tão importantes quão escolher como editar as suas videoparts. O próprio Mark Gonzalez, o “padrinho” do street skate, confessa no livro que os Hill são das pessoas que mais o influenciaram na sua carreira. Aliás, são mais de 190 os relatos de personalidades reconhecidas nas mais variadas profissões (skaters, atores, políticos, designers…), entre os quais o ex-primeiro ministro australiano Paul Keating, que fizeram questão de, neste livro, dar o seu testemunho do quanto apreciam a maneira de ser e empreendorismo dos três irmãos.
Ao lermos a obra, ficamos surpreendidos pela positiva, pois não encontramos apenas uma biografia “vazia” e linear, mas muito mais. Ao longo das cerca de 700 páginas deste livro são muitas mais as histórias, aventuras e desventuras, azares e felizes coincidências que, mais de 30 anos depois, levam estes três “rapazes” a viver a vida “à sua maneira”, fiéis ao seu lema: “hardcore, skate e street”.

Termino com uma reflexão de um dos irmãos, Matt Hill, e que me diz muito: “Claramente, nós éramos impossíveis de sermos contratados/empregados por alguém. Para o mundo exterior, nós éramos uns falhados, com hobbies juvenis, sem futuro. Para nós, significava não seguir uma vida convencional. Queríamos conciliar as nossas vidas adolescentes com a realidade: otimistas, inovadoras e divertidas.”