Título:
Unemployable
Autor: Jason
Boulter
Editora:
Thames e Hudson
País:
Austrália
Sou skater
AMADOR (no mais estrito sentido da palavra e para desespero inicial dos meus
pais), não daqueles que procura o exibicionismo pelas manobras arrojadas, a
rapariga mais “in” ou fazer parte de grupos que, pela sua indumentária,
vocabulário grosseiro e comportamento desviante, são os “heróis” lá do seu
bairro. Não, eu e a minha tábua procuramos a liberdade do momento, “rasgar o
alcatrão” sem pensar em mais nada, fazer “piruetas” que o meu pouco jeito me
permite!
Sempre me interessei pela prática deste desporto e
por tudo aquilo que o rodeia, procurando todo o tipo de informação acerca do
mesmo. Aprecio, sobretudo, a parte estética /artística do movimento dos atletas
e do meio envolvente, captados por fotografias fabulosas, bem como da reinterpretação
das tábuas usadas por alguns skaters
(eu próprio pinto as minhas lixas, personalizando-as). Sou leitor assíduo das
revistas da especialidade – a “Surge”, a “Skateboard Magazine” e a "Thrasher Magazine" -, visito,
sempre que é possível, a exposições de skate (com o objetivo de divulgar
trabalhos e estimular e projetar a interação entre a modalidade do skate e
todos aqueles que, pelo seu engenho e dedicação se vão destacando na área
artística do momento…designers, artistas plásticos…). Sou, igualmente,
interessado pelo percurso pessoal e profissional de algumas individualidades do
Skate, entre os quais Rodney Mullen (engenheiro biomédico, empresário,
inventor, orador, skateboarder). Foi
através deste que “esbarrei” com a obra Unemployable,
pois Rodney escreveu o seu prefácio. Juntei o útil ao agradável: sempre gostei
de ler e, além disso, “caiu do céu”, pois eu necessitava de fazer uma exposição
oral na aula de Inglês! Estava ciente que não iria apresentar uma obra da
magnitude de, por exemplo, As vinhas da ira, de John Steinbeck, mas decidi
correr o risco e, em boa hora, o fiz: consegui prender a atenção dos meus
colegas e da professora, mas aposto que não foi pelas minhas qualidades de
orador, mas sim pela surpreendente mensagem e narrativa aliciante da obra.
A história verídica de Unemployable remonta à subcultura dos anos 70 do século
passado, na Austrália, e tem como personagens os irmãos Hill - Stephen, Peter e
Matt -, apaixonados pelos desportos radicais, entre os quais, o Skate.
A narrativa é surpreendente e motivadora e
obriga-nos a refletir que muitos desaires não têm nada a ver com crises
económicas, falta de emprego, poucas oportunidades, ou azares da vida, mas
exatamente o oposto. Como dizem os próprios irmãos Hill no início da obra, o
título veio mesmo de uma palavra usada por eles na altura em que sentiam
necessidade de criar algo novo, visto que não se reviam como parte do sistema
vigente ou tão pouco se conformavam com regras estabelecidas. Este é um retorno
de uma verdadeira “epopeia” iniciada há mais de 30 anos pelos irmãos Hill na
Austrália, bem longe da costa californiana.
Estes três irmãos criaram uma das maiores empresas
de skate e surf da atualidade – a Globe International-, e são reconhecidos
pelos seus pares e concorrentes como exemplos, sempre fiéis às suas raízes e aos
valores que cultivavam, desde que aos 13 anos formaram o seu primeiro grupo de skaters num subúrbio de Melbourne. Hoje
em dia, são conhecidas as suas marcas e o impacto que têm no mundo do skate (e
não só): Globe Shoes, Almost Skateboards, Cliché, Darkstar, Blind, Enjoi…mas,
de certeza, que poucos têm conhecimento que alguns dos mais influentes skaters mundiais também saíram do
“forno” onde estes três irmãos “cozinhavam”. Como eles próprios afirmam, quando
se acredita nas pessoas e elas confiam no sujeito, essa premissa de
relacionamento dá-nos mais bases para evoluir no agora competitivo mundo do
skate e do surf. Essa sua visão levou a que algumas lendas do skate mundial,
como Rodney Mullen, ou Lance Mountain, tenham confiado neles para casos tão importantes quão escolher como editar as suas videoparts. O
próprio Mark Gonzalez, o “padrinho” do street skate, confessa no livro que os
Hill são das pessoas que mais o influenciaram na sua carreira. Aliás, são mais
de 190 os relatos de personalidades reconhecidas nas mais variadas profissões
(skaters, atores, políticos, designers…), entre os quais o ex-primeiro ministro
australiano Paul Keating, que fizeram questão de, neste livro, dar o seu
testemunho do quanto apreciam a maneira de ser e empreendorismo dos três irmãos.
Ao lermos a obra, ficamos surpreendidos pela
positiva, pois não encontramos apenas uma biografia “vazia” e linear, mas muito
mais. Ao longo das cerca de 700 páginas deste livro são muitas mais as
histórias, aventuras e desventuras, azares e felizes coincidências que, mais de
30 anos depois, levam estes três “rapazes” a viver a vida “à sua maneira”,
fiéis ao seu lema: “hardcore, skate e street”.
Termino com uma reflexão de um dos irmãos, Matt
Hill, e que me diz muito: “Claramente, nós éramos impossíveis de sermos
contratados/empregados por alguém. Para o mundo exterior, nós éramos uns
falhados, com hobbies juvenis, sem futuro. Para nós, significava não seguir uma
vida convencional. Queríamos conciliar as nossas vidas adolescentes com a
realidade: otimistas, inovadoras e divertidas.”