quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

O Ano do Dilúvio

O Ano do Dilúvio é o segundo livro da trilogia MaddAdam, ou MarAdão, em português, de Margaret Atwood, contado do ponto de vista de duas personagens: Toby e Ren.
Esta obra descreve-nos um mundo em que grande parte da Humanidade foi arrasada pelo Dilúvio Seco – uma epidemia que exterminava apenas humanos, não afetando de forma alguma outros seres. Entre os escassos sobreviventes encontram-se Toby e Ren, ambas integrantes de um culto religioso denominado “Os Jardineiros”, que defendiam a paz entre as espécies e o meio ambiente, condenando o consumo de carne animal, qualquer tipo de violência e a posse de certos objetos, tais como telemóveis ou computadores portáteis. No decurso da narrativa ficamos lentamente a conhecer a sua história pessoal, assim como a forma como cada uma lida com a solidão.
Toby vivera uma vida normal, cercada de uma família feliz. Um dia, porém, a sua mãe adoece misteriosamente e o seu pai gasta toda a sua riqueza para encontrar uma cura. Quando os seus esforços falham e a mãe de Toby não sobrevive, o seu pai suicida-se e Toby é deixada sozinha. De modo a sobreviver, tenta ganhar dinheiro suficiente para comida e alojamento através de pequenos trabalhos, até que termina num estabelecimento da grande corporação dos HambúrgueresSecretos, O dono deste pequeno restaurante (que teria este nome por ninguém saber que tipo de carne era utilizada nos mesmos) era Blanco, um homem temido nas ruas, que transforma Toby numa espécie de escrava sexual. Um dia, porém, o líder dos Jardineiros, Adão Um, ao discursar em frente ao dito estabelecimento, convida Toby para se lhes juntar. Esta foge de Blanco para a segurança do culto, voltando apenas a aventurar-se no mundo exterior anos mais tarde, quando os Jardineiros a enviam para um salão de operações plásticas, de modo a permanecer segura até à chegada do Dilúvio Seco, por eles profetizado.
Ren, por outro lado, fora levada para junto dos Jardineiros pela mãe, que fugira do marido com Zebb, um dos membros de maior importância do culto. Apesar de se sentir infeliz rodeada por religiosos e de desprezar as ações da mãe, a vida de Ren ganha significado quando conhece Amanda, que se tornaria a sua preciosa melhor amiga. No entanto, mal encontra a felicidade com Amanda, a mãe de Ren decide abandonar Zebb e voltar para junto do marido, implorando que as aceite de volta e mentindo, afirmando que os Jardineiros as haviam raptado. Após a morte do pai de Ren, a sua mãe deserda-a e abandona-a, impelindo-a a trabalhar numa casa de dançarinas de varão, tornando-se na única sobrevivente do estabelecimento após um grupo de homens assassinar todas as outras dançarinas, bem como o seu patrão, poucos dias antes do Dilúvio.
Através destas duas personagens, Margaret Atwood toca em vários aspetos ambientais, religiosos, psicológicos e morais, criticando até mesmo a sociedade em si. Em O Ano do Dilúvio, a Humanidade atingiu o seu ponto mais baixo, sendo intensamente criticada pela autora, tanto através da linguagem utilizada, como pelos pensamentos e opiniões das personagens: mutações animais são criadas em laboratório apenas pelo prazer de contemplar as mesmas; gangues circulam pelas ruas, largando cadáveres pelos becos das cidades; grandes corporações criam alimentos viciantes que alegadamente utilizariam restos de animais em vias de extinção, ou até mesmo carne humana; criminosos são enviados para campos onde equipas se defrontam até à morte, sendo as equipas vitoriosas libertadas quando cumprido o seu tempo, impossíveis de controlar até pela polícia…

É nesta altura que chega o Dilúvio Seco, que praticamente extermina a raça humana, com algumas exceções, levando as personagens e, por extensão, o leitor a refletir se esta epidemia não teria sido enviada pelo Deus venerado pelos Jardineiros. Seria este o modo de dar ao planeta e a todos os seus outros habitantes um novo começo sem o ser humano e toda a destruição que este causa?