O Ano do Dilúvio é o segundo livro da trilogia MaddAdam, ou MarAdão,
em português, de Margaret Atwood, contado do ponto de vista de duas
personagens: Toby e Ren.
Esta obra descreve-nos um mundo em que grande parte da Humanidade foi
arrasada pelo Dilúvio Seco – uma epidemia que exterminava apenas humanos,
não afetando de forma alguma outros seres. Entre os escassos sobreviventes
encontram-se Toby e Ren, ambas integrantes de um culto religioso denominado “Os
Jardineiros”, que defendiam a paz entre as espécies e o meio ambiente,
condenando o consumo de carne animal, qualquer tipo de violência e a posse de
certos objetos, tais como telemóveis ou computadores portáteis. No decurso da
narrativa ficamos lentamente a conhecer a sua história pessoal, assim como a
forma como cada uma lida com a solidão.
Toby vivera uma vida normal, cercada de uma família feliz. Um dia, porém, a
sua mãe adoece misteriosamente e o seu pai gasta toda a sua riqueza para
encontrar uma cura. Quando os seus esforços falham e a mãe de Toby não
sobrevive, o seu pai suicida-se e Toby é deixada sozinha. De modo a
sobreviver, tenta ganhar dinheiro suficiente para comida e alojamento através
de pequenos trabalhos, até que termina num estabelecimento da grande corporação
dos HambúrgueresSecretos, O dono deste pequeno restaurante (que
teria este nome por ninguém saber que tipo de carne era utilizada nos mesmos)
era Blanco, um homem temido nas ruas, que transforma Toby numa espécie de
escrava sexual. Um dia, porém, o líder dos Jardineiros, Adão Um, ao discursar
em frente ao dito estabelecimento, convida Toby para se lhes juntar. Esta foge
de Blanco para a segurança do culto, voltando apenas a aventurar-se no mundo
exterior anos mais tarde, quando os Jardineiros a enviam para um salão de
operações plásticas, de modo a permanecer segura até à chegada do Dilúvio Seco,
por eles profetizado.
Ren, por outro lado, fora levada para junto dos Jardineiros pela mãe, que
fugira do marido com Zebb, um dos membros de maior importância do culto. Apesar
de se sentir infeliz rodeada por religiosos e de desprezar as ações da mãe, a
vida de Ren ganha significado quando conhece Amanda, que se tornaria a sua
preciosa melhor amiga. No entanto, mal encontra a felicidade com Amanda, a mãe
de Ren decide abandonar Zebb e voltar para junto do marido, implorando que as
aceite de volta e mentindo, afirmando que os Jardineiros as haviam
raptado. Após a morte do pai de Ren, a sua mãe deserda-a e abandona-a,
impelindo-a a trabalhar numa casa de dançarinas de varão, tornando-se na única
sobrevivente do estabelecimento após um grupo de homens assassinar todas as
outras dançarinas, bem como o seu patrão, poucos dias antes do Dilúvio.
Através destas duas personagens, Margaret Atwood toca em vários aspetos
ambientais, religiosos, psicológicos e morais, criticando até mesmo a sociedade
em si. Em O Ano do Dilúvio, a Humanidade atingiu o seu ponto mais
baixo, sendo intensamente criticada pela autora, tanto através da
linguagem utilizada, como pelos pensamentos e opiniões das personagens:
mutações animais são criadas em laboratório apenas pelo prazer de contemplar as
mesmas; gangues circulam pelas ruas, largando cadáveres pelos becos das
cidades; grandes corporações criam alimentos viciantes que alegadamente
utilizariam restos de animais em vias de extinção, ou até mesmo carne humana;
criminosos são enviados para campos onde equipas se defrontam até à morte,
sendo as equipas vitoriosas libertadas quando cumprido o seu tempo, impossíveis
de controlar até pela polícia…
É nesta altura que chega o Dilúvio Seco, que praticamente extermina a raça
humana, com algumas exceções, levando as personagens e, por extensão, o leitor
a refletir se esta epidemia não teria sido enviada pelo Deus venerado pelos
Jardineiros. Seria este o modo de dar ao planeta e a todos os seus outros
habitantes um novo começo sem o ser humano e
toda a destruição que este causa?

