quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Recensão: Mulholland Drive 


Considerado pela BBC o melhor filme do século, Mulholland Drive, escrito e dirigido por David Lynch, desenvolve-se em torno de uma mulher amnésica após um acidente de carro, que recorre a uma casa vazia para se refugiar, sendo depois encontrada por Betty, que a acolhe na situação e as duas tornam-se cúmplices na tentativa de desvendar quem é esta misteriosa amnésica.



Da primeira vez que assisti a este filme passei alguns dias a criar cenários que justificassem a opressividade estranha que a confusão da história me transmitiu. Tentei arranjar uma explicação para aquilo a que tinha assistido. Consigo enumerar dúvidas às quais, passados uns dias de reflexão, ainda não arranjei resposta que considere correta, e é talvez isso que me faz ficar cada vez mais curiosa em relação a este enredo. 
Alguém me pergunta se os primeiros minutos de filme me agarraram por completo, e eu respondo que nesses primeiros minutos o Mulholland Drive me pregou um grande susto e que nos últimos dez tinha a maior confusão engendrada mentalmente. 
No entanto, assistindo uma segunda vez, encontro refúgio na sensação que cada cena, psicoticamente lúcida, me transmite enquanto a vejo. 
David Lynch é traiçoeiro, ao oferecer-nos um leque de momentos inteligentes e claramente exprimidos tornando-os, do nada, em algo absurdamente louco e apresentando personagens, que outrora eram pessoas normais, como dementes. 
Betty, por exemplo, uma rapariga normal que chega a Hollywood à espera de fazer sucesso enquanto atriz, torna-se mais tarde noutra pessoa, na qual são evidentes os sinais de loucura e alucinação. Existe uma cena específica que quero mencionar, na qual Diane se encontra num restaurante e observa a placa do nome de uma empregada do local, o plano de imagem volta-se para esta mesma placa, na qual podemos ler com clareza o nome “Betty”. Aí pergunto-me: estará Diane (que conhecemos como Betty nas cenas iniciais do filme), uma mulher verdadeira, a sonhar? Porque em sonhos muitas vezes confundimos nomes e caras, tanto como estarmos a falar com uma pessoa que do nada se torna outra.

A conclusão pessoal que tiro de toda esta história é que existe nela uma tentativa de reprodução daquilo que identificamos como um sonho. Factos que contrariam a razão, ou qualquer coisa difícil de acreditar que acontecesse no mundo real, parecem-me muito deslocados em algumas cenas, comparadas com outras partes deste filme que fazem completo sentido. Um aspecto que identifico muito com o mundo dos sonhos, a da própria confusão da pessoa que sonha. 


Mulholland Drive é, para mim, um reflexo daquilo que é um sonho.