quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Recensão - "Pure Comedy"

 
    Coloquei "Pure Comedy" a tocar, o 3º álbum da carreira a solo de Father John Misty (Joshua Tillman), e logo fui assaltada por uma sensação de calma contraditória ao que estava ser cantado. A 1ª faixa apresenta uma vasta crítica à religião, aliás, todo o álbum é construído pela visão niilista e irónica que o autor tem da sociedade perante a monotonia do quotidiano.
     O álbum pareceu-me todo ele muito parecido. São 13 baladas que começam com o piano a marcar um compasso calmo em direção a um ritmo crescente, até que o piano encontra instrumentos de sopro, percussão e efeitos sonoros que transformam a balada num momento quase teatral, em que o cantor acompanha a banda sonora com uma excelente interpretação vocal, enfatizando o significado do que pretende transmitir com a sua voz.
    Esta semelhança entre músicas é apenas quebrada em Ballad of the Dying Man, Birdie e Leaving LA (faixas 4, 5 e 6). Estas três músicas apresentam um ritmo intensamente monótono e lento, envolvendo-me num ambiente cinzento como naqueles dias chuvosos em que o sol teima em não aparecer. Surpreendentemente Leaving LA, a mais longa faixa do álbum com 13 minutos e alguns segundos, é nostálgica e reconfortante, como se estivesse envolta em mantas com uma bebida quente, entre mãos nesse tal dia chuvoso.
     É realmente um álbum longo com mais de uma hora, no entanto, excetuando as faixas 4 e 5, achei-o extremamente envolvente, as músicas surgiam seguindo-se subtilmente e eu nem dava conta do tempo passar enquanto as ouvia. O álbum continuou retomando o jeito teatral das 3 primeiras faixas até ao final, repleto de criticas ao excesso da cultura de entretenimento que nos distrai da possibilidade de sermos livres.
 
“THE SUPER-EGO SHATTERS WITH OUR IDEOLOGIES / THE OBSCENE INJUNCTION TO ENJOY LIFE / DISAPPEARS AS IN A DREAM / BUT THERE ARE SOME VISIONARIES AMONG US DEVELOPING SOME PRODUCTS / TO AID US IN OUR STRUGGLE TO SURVIVE”, em "Things It Would Be helpful To Know Before The Revolution"
 
 
 
 
 
    Experimentei depois ouvir o álbum no autocarro, no metro, a caminho das aulas, de dia, de noite, com sol, com chuva... afim de entender que sentimentos o álbum passava, se me conseguisse simplesmente abstrair das letras geniais de Father John Misty. A verdade é que dei por mim a ouvir um álbum melancólico e repleto de críticas à sociedade com um sorriso na cara e um sentimento de paz, ou energia dependendo da parte da música, deixando-me evolver completamente com a banda e a voz tão bem entoada (puramente a voz, sem prestar atenção à mensagem).
 
     Não consegui até hoje nomear uma música de eleição porque fui conquistada pelo o álbum como um todo, sendo atualmente o meu álbum preferido. Talvez por lhe ter dado espaço para mostrar todos os seus atributos, por ter analisado as letras e os instrumentos como nunca antes tinha feito, ou talvez a sua ironia mesquinha e peculiar me tenha seduzido. Não sei. No entanto, desde então tenho vindo a partilhar e  convidar muita gente a ouvir o álbum "Pure Comedy" com boas colunas que não oprimam os instrumentos e a sua voz.
   

 

    Este artista apresentou o seu álbum a Portugal no dia 20 de Novembro de 2017 no Coliseu dos Recreios, acontecimento em que me arrependo de não estado presente. Mas em boa verdade, ainda não tinha apreciado a música o suficiente, para saber o quão teria valido a pena ouvi-la ao vivo. Só me resta seguir o meu próprio conselho de ouvir as músicas com boas colunas e esperar pelo próximo concerto, quem sabe de um novo álbum.
 
Link da página de youtube do artista onde é possível encontrar o álbum: