A Rapariga Dinamarquesa, realizado por Tom Hooper é um filme subtil e extraordinariamente bem elaborado, mas que vai em direções diferentes. Hooper conta uma história impressionante de uma forma séria. a personagem principal é Lili Elbe, a artista cujo espírito valente e pioneiro continua a ser uma inspiração para o movimento transgénero de hoje, mas que, no decorrer do filme, sofre um trauma extremo.
Este filme apresenta um marido reprimido com uma esposa muito solidária tentando transformar-se e libertar-se. Não é um caso simples pois pretende mostrar um marido que quer viver a vida enquanto mulher.
O filme começa de forma suave, mas torna-se cada vez mais sombrio e complexo. Podemos ver o talento tanto de Eddie Redmayne (Lili) e de Alicia Vikander (Gerda) que interpretam respetivamente o marido transgénero e a esposa devota.
Conforme foi visto no principio do filme, Einar Wegener (Redmayne) é um pintor de paisagens bem sucedido. Ele vive uma vida despreocupada no apartamento que ele compartilha com Gerda (Vikander) e o seu animal de estimação. A única situação menos boa do casamento perfeito deles vem da falta de sucesso profissional de Gerda. Os mesmos donos da galeria que elogiam a arte de Einar, recusam os retratos de Gerda por serem muito convencionais.
O guião escrito por Lucinda Coxon é tanto um estudo de um casamento quanto um de sexualidade e identidade. O filme está cheio de ironia. A busca da identidade de Einar traz o marido e a esposa mais próximos ao mesmo tempo que correm o risco de destruir o seu casamento. Há momentos em que a suas identidades parecem tornar-se numa só.
Ao principio, a decisão de Einar de se reinventar como Lili parece ser um jogo. Gerda ajuda-o enquanto se veste com peruca e meias, aplica o batom e vão a uma festa dum clube artístico. Lili estuda as mulheres ao seu redor com um fascínio imenso, prestando especial atenção aos seus tornozelos e à forma como movem as mãos. Lili é como um jovem cisne nervoso com a cabeça inclinada para baixo, o seu pescoço longo sempre visível, os seus dedos tremendo e um sorriso tímido no rosto.
O filme é sobre a "transição" de Lili, o processo de mudança que as pessoas transexuais se comprometem a fazer no seu corpo e sua expressão de género em alinhamento com sua identidade interior de género. Esta não é uma mudança fácil. Muitos médicos consideram Lili como uma aberração. Eles consideram o seu comportamento como resultado de um desequilíbrio químico ou pensamento anormal
Quando Lili recebe a chance de uma cirurgia de mudança de sexo, ela é informada de que as duas operações que necessita de fazer para se tornar totalmente numa mulher é de alto risco de falha, infecções, complicações, etc. O que torna o desempenho de Redmayne tão excepcional é a forma como ele captura o terror de Lili e a sua bravura teimosa. Alguns dos gestos do ator parecem muito amaneirados, mas estamos sempre conscientes da inteligência e dos sentimentos que estão dirigindo Lili. Ao ser tão honesto com a sua própria natureza, ela está a destruir a vida confortável que Einar e Gerda desfrutaram como casal.
A Rapariga Dinamarquesa é um filme desconcertante de se ver. Em muitos aspetos, este é o filme mais ousado que Tom Hooper fez. Tem uma profundidade de caracterização que vai muito além de tudo encontrado em filmes como The Damned United ou The King's Speech. Ao mesmo tempo, não há perspetivas de um resultado feliz e catártico aqui - uma das razões pelas quais o filme faz uma visão tão emocional e, ocasionalmente, deprimente.