sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

Banda Sonora: A Personagem Oculta

Pulp Fiction, escrito e dirigido por Quentin Tarantido, chegou à tela em 1994. Tarantino incorpora a banda sonora nas diferentes cenas do filme, de tal forma que nalgumas cenas esta surge com a importância de uma personagem.

Duas das músicas que se destacam, pela sua conexão com o drama que percorre todo o filme, são “You Never Can Tell” e “Girl, You’ll Be a Woman Soon”.

Vicent, um assassino contratado que trabalha para Marsellus, leva Mia, a mulher do seu chefe, a jantar a pedido do mesmo. Há rumores de que Marsellus mata qualquer homem que se aproxime fisicamente da sua mulher.


Na cena do jantar, Mia decide que quer entrar num concurso de dança twist no palco de um restaurante revivalista. A música “You Never Can Tell”, escrita por Chuck Berry na prisão, transporta para o filme, com a expressão “C’est La Vie”, a antecipação, e uma certa inevitabilidade do perigo que leva o sicário a tentar não se aproximar da mulher do seu chefe.

Na competição de twist, típica dos anos 60, a música “empresta” a Uma Thurman um ar adolescente e caprichoso. Esta confronta e desafia a pose reservada de Travolta que esconde mal a atração que sente por Mia.



Girl, You’ll Be a Woman Soon”, uma interpretarão dos Urge Overkill da música de Niel Diamond, surge-nos na cena imediamente a seguir. Vicent tenta recompor-se na casa-de-casa, convencendo-se a si próprio de que não está a ter um encontro amoroso com Mia. Ao mesmo tempo, esta aguarda por ele enquanto dança ao som da música. Acaba por se sentar e descobrir nos bolsos da gabardine do seu acompanhante, primeiro, um isqueiro e depois o que ela julga ser cocaína. Mas que após inalação o celuloide revela que se trata de uma dose quase letal de heroína.

A música desacelera e termina ao mesmo tempo que ela, em overdose, se aproxima da morte, em silêncio. A música está diretamente relacionada com o curso interpretativo: Mia é uma figura com traços juvenis, dependente do marido - mais velho - que procura assumir o controlo da sua vida. Conseguir envolver-se com o segurança que Marsellus escolhera seria uma boa prova disso. Mas, ao tentar passar de rapariga a mulher, acaba por quase encontrar a morte.


Tarantino consegue dar uma “segunda vida” a ambas as músicas, que hoje em dia associamos mais ao Pulp Fiction do que aos autores originais.