Entre 1797 e 1798 o pintor da corte espanhola, Francisco Goya criou uma série de 80 gravuras, denominados “Los Caprichos”.
Estas gravuras apresentam cenas da vida espanhola do século XVIII misturadas com elementos tenebrosos e monstruosos.
Em termos de técnica as gravuras são brilhantemente executadas, utilizando vários tons de sombra e tramas amorfas para realçar a escuridão dos acontecimentos apresentados, e demonstram composições cativantes e figuras horríveis, e o seu estilo geral é considerado um precursor ao movimento modernista que se iria dar 50 anos mais tarde.
Mas a maior força destas obras está na sua crítica social e contexto, pois embora as imagens sejam fantasiosas representam várias facetas imorais e injustas da sociedade que atacam, e deixam nos observar o descontento de Goya, que as publica mesmo sendo pintor da corte e na altura da Inquisição em Espanha, realmente arriscando a sua vida ao insultar o povo, clero e nobreza espanhola.
Embora, a mais iconica das gravuras “El sueno de la razon produce monstruos” não se foca em nenhum aspeto da sociedade mas sim em problemas intrinsicamente humanos como a paranoia, depressão e loucura, e é se calhar a que mais revela a mente do autor, visto que Goya tivera e viria a ter vários problemas médicos e se tornaria progressivamente mais cínico e paranóico com a idade, culminando na sua criação das “Pinturas Negras” pintadas diretamente nas paredes da sua casa, que apresentavam cenas ainda mais macabras que “Los Caprichos”, incluindo a famosa pintura de Saturno a comer os seus filhos.
Em resumo “Los caprichos” são das expressões mais antigas de pura paixão artística, criadas sem restrições num tempo de censura, e de um artista que apresenta os confins da sua alma e mente sem reservas.
