“ Meu querido pai,
perguntaste-me há pouco tempo por que razão digo que tenho medo de ti.”
Franz Kafka nasceu a 3 de julho de 1883 em Praga , República Checa, e veio a falecer a 3 de junho de 1924 em Klosterneuburg, Áustria. Era filho de Hermann e Julie Kafka.
Toda a sua escrita é um retrato da sensação claustrofóbica e impotente que o homem moderno tem para com a realidade absurda e labiríntica. Nas suas obras mais famosas – A Metamorfose (1915), O Processo (1925), O Castelo (1926) –, são abordados temas sombrios com uma brutalidade física e psicológica, que guia o homem para isolamento e medo, revelando assim toda as suas fraquezas e vulnerabilidades.
Na Carta ao Pai (1919), Kafka dirige-se ao seu progenitor, criticando-o pela sua severidade e temperamento dominador, que havia transformado a relação entre ambos em algo instável. Desenvolve uma relação vazia de afectos e pouco pacífica com o pai. Os únicos sentimentos que o escritor revela são medo e receio de ser esquecido e repudiado, por ser um fracasso total como filho e homem. A frase “Vejo em ti o enigma próprio de todos os tiranos”, sintetiza a visão perturbadora que o autor cria do pai, resultante do ambiente de medo constante em que foi educado. Com o passar dos anos Kafka desenvolve uma sensação de nulidade e desprezo para consigo, acreditando tratar-se de alguém que não faz falta neste mundo e que não deixará saudade e memória nos outros e no mundo.
A única razão que explica este repúdio por si mesmo tem origem na carência de afecto e de amor, que são substituídos pelo seu pai por sentimentos de desilusão e de desapontamento. Contudo, é de relevar a admiração que Kafka demonstra pelo método pedagógico severo e calculista usado por seu pai e pela sua personalidade forte, robusta, convicta, confiante e orgulhosa, isto é, as virtudes que Kafka gostaria de ter.Por ter sido submetido a esta pedagogia, Kafka tenta com todas as suas forças concretizar os objectivos impostos pelo seu pai, fim que não alcança devido à sua fraca natureza. Torna-se, assim, objecto de desprezo por parte do pai e tudo o que alcança na sua vida pessoal e profissional é sempre alvo de crítica.
A educação que recebeu não lhe permite ser livre nas suas escolhas, porque foi incentivado a não lhes dar continuidade, por serem inúteis e humilhantes para si e para o seu pai, o que se repercute na sua vida pessoal: dissolução do seu noivado por discordância do pai; mérito escolar que não é reconhecido.
Em síntese, a experiência traumática que Kafka viveu nos seus primeiros anos de vida e que o moldaram como pessoa, levam-nos a concluir que a formação da pessoa deverá ter na sua base uma educação assente na liberdade e fragilidade do ser humano.
“...chegámos, ao que me parece, a um ponto tão próximo da verdade que nos permite a ambos ficar um pouco mais tranquilos e tornar mais fáceis a vida e a morte.”
Franz