A langue (língua) é o sistema da língua, isto é, o conjunto
de todas as regras que determinam o emprego de sons, das formas e relações
sintáticas necessárias para a produção dos significados. Já a parole (fala) é
uma parcela concreta e individual da langue que é colocada em ação por um
indivíduo em uma situação comunicativa. Sendo assim, a langue é condição
necessária para a existência da parole.
A relação entre langue e parole feita por Saussure aplica-se
a imensos exemplos, sendo um deles a relação entre “sexo” e “sexualidade”. Sexo
e Sexualidade são dois termos que muitas vezes são confundidos entre si. “Sexo”
é visto a partir de características anatómicas, biológicas e físicas enquanto a
“sexualidade” diz respeito às práticas eróticas e sexuais entre os indivíduos,
classificadas na nossa sociedade com termos como por exemplo “heterossexualidade”,
“homossexualidade” e “bissexualidade”. Vale também mencionar e definir “género”
sendo este algo constituído no plano das construções socioculturais, variando
através da história e dos contextos regionais, etc.
Aos olhos da filósofa Judith Butler tanto o sexo biológico
como o género são matéria para teoria social. O trabalho incrível desta autora ajuda-nos a
perceber de maneira clara a relação entre sexo, género e desejo sexual (sexualidade).
O binarismo de género (masculino/feminino) não dá conta da complexidade da
realidade, no entanto espera-se que um individuo com um pénis seja um homem e
que por consequência sinta atração por mulheres. Esta ideia é errada, existindo
um leque enorme de identificação de género e de sexualidades.
Um tema pelo qual sou apaixonada e pelo qual me interesso imenso é o movimento Drag. Drag é uma forma de entretinimento em que pessoas
se vestem e fazem performance (normalmente de formas extravagantes). Hoje em
dia os artistas drag mais influentes identificam-se como homens e apresentam-se
enquanto mulheres, chamam-se “Drag Queens”. A maior parte das Drag Queens vivem
a sua vida enquanto homens (fora da sua personificação drag) no entanto, uma
pessoa de qualquer género pode ser uma Drag Queen. Também existem os Drag Kings,
sendo estes normalmente mulheres. Estas manifestações são feitas a partir da
criação de toda uma nova pessoa com um nome diferente, um estilo específico e pode ser tratada com pronomes diferentes. No entanto, nada disto não quer dizer que pessoas
Drag sejam transgénero! Assim como atores, os artistas Drag não permanecem necessariamente
com o seu nome ou pronome que usam para as performances. Os artistas Drag são
entertainers, portanto estar em drag não é uma parte integral da sua identidade
da mesma forma que o seu género.
Por outro lado, quando uma pessoa transgénero se assume e
pede às pessoas para usarem outro nome e outros pronomes de género para se
referirem a ela, não faz parte de uma performance. É uma parte importante da
sua identidade e é (ou pode ser) uma parte crítica da afirmação da sua identidade
de género.
Um programa que se tornou mainstream mas que ajudou imenso
na descoberta de drag Queens e na sua compreensão é “Rupauls Drag Race” no qual
as Queens competem pelo título da nova estrela Drag da América.
Apesar de ser uma competição ao estilo de “reality show”, esta representa
tamanha importância no mundo LGBT. Para além de fazer com que esta forma de arte,
que é ser Drag, seja celebrada, faz-nos também conhecer algumas personalidades
e casos muito interessantes e inspiradores. A drag Queen Peppermint competiu na
temporada 9 deste programa e foi a primeira Queen que competiu enquanto mulher
transgénero assumida. Este é o exemplo perfeito para terminar o meu comentário.
A Peppermint nasceu com um sexo biológico (homem), mas a sua identidade de
género não correspondia com o seu sexo, identificava-se então com o género
feminino, por isso mudou o seu nome, a maneira de se vestir, etc, sendo agora, uma
mulher. No entanto, é também uma drag queen, enquanto mulher. O que nos faz
perceber que não há regras para se ser um ser humano, visto que todos somos
diferentes, todos estamos inseridos em contextos sociais diferentes e todos
temos o direito de nos exprimirmos e sermos nós próprios.
Concluindo não assumam e respeitem as outras pessoas. Se não
tiverem a certeza, por exempo de que pronomes utilizar quando se referem a
alguém, perguntem, simplesmente perguntem.
