quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

"Wall-E" - Recensão

Título: “Wall-E”
Lançamento: 14 de Agosto de 2008 (Portugal)
Direção: Andrew Stanton
Duração: 98 minutos
Género: Animação/ Ficção científica/ Comédia
Companhia produtora: Pixar Animation Studios
Distribuição: Walt Disney Studios Motion Pictures    


   Tudo começa a partir de uma Terra inóspita e entulhada de lixo, ao som de “Put on Your Sunday Clothes” de Michael Crawford.


   O filme tem início no ano de 2700, tendo como cenário principal o nosso planeta, desabitado. Este com um grande depósito de lixo, resultante de décadas de consumismo em massa e no qual o personagem principal do filme, Wall-E (Waste Allocation Load Lifters - Earth – Levantador de Carga para Alocação de Lixo – Classe 'Terra') trabalha. Compacta e organiza, sozinho, uma vez que todos os outros robôs como ele já se encontram estragados. Assim, ele e a sua barata de estimação são os únicos habitantes daquele planeta cinzento.
   Os seres humanos que outrora habitaram a Terra residem agora na estação espacial Axiom. Sendo previsto lá passarem apenas cinco anos, a aguardar a conclusão do trabalho de robôs como Wall-e, acabam por permanecer 700 anos.
   Com o hábito de guardar vários artefactos do lixo, certo dia, Wall-e encontra uma planta, que guarda dentro de uma velha e suja bota e que leva consigo de volta para casa.
   Como se pode perceber, a vida de Wall-E é solitária. Até surgir Eva, um moderno robô deixado por uma nave, com a missão de percorrer todo o planeta à procura de vegetação. Sempre curioso, Wall-E tenta conhecê-la. E apaixona-se.


   No momento em que Wall-E mostra a planta a Eva, esta guarda-a e desliga-se. Destroçado e de coração partido, tenta reanimá-la de todas as formas, mas sem sucesso. Nunca perdendo a esperança, carrega-a consigo para todo o lado.

   Quando chega a nave para a vir buscar, Wall-E vai também. E é através desta personagem principal que nos deparamos com todo este novo “mundo” em que estão pouco menos de 22ºc e o dia e a noite são controlados remotamente pelo capitão. E, é claro,com toda a situação sedentária em que se encontram os humanos. Com o seu ar distraído e amedrontado, este percorre os corredores de Axiom, onde se cruza várias vezes com humanos, sentados em cadeiras, a falar entre si através de uma projeção de imagem virtual e numa posição alongada. Estranhando tudo isto, Wall-E tenta iniciar diálogo com uma humana, acidentalmente chocando contra a cadeira da mesma. Esta apercebe-se de tudo à sua volta, de todos os plasmas com publicidade, todas as luzes, a enorme piscina deserta e a enorme galáxia atrás das vastas janelas.


   “Wall-E” possui uma das mensagens mais críticas à sociedade feitas num filme da Pixar. Contendo um roteiro de diálogos mínimos e conceitos bastante densos como ideologia, axioma, cultura de massa e uma alienação completa por parte da mídia e da tecnologia.




   Não podemos também deixar de reparar na ideia do sedentarismo doentio retratado e a enorme dificuldade em fazer e manter laços humanos. Isto em contradição à história de amor de Wall-E e Eva.

   Uma situação insólita por os envolvidos serem dois robôs, mas ao mesmo tempo terna e cativante. Pois o sentimento não é apresentado por palavras, mas por emoções. Praticamente até metade do filme não há diálogos, apenas ruídos robotizados que quase sempre são a repetição dos nomes do casal. A excelência da animação e os precisos movimentos de Wall-E e Eva, cuidadosamente e carinhosamente calculados, dão o tom. E nasce uma história de amor, das mais puras e singelas.

   Contém bastantes referências históricas, uma delas sendo o Wall-E assistir, repetidas vezes, uma fita VHS do musical “Hello, Dolly”. Filme musical de 1969 que ganhou 3 Óscares, e recebeu 5 nomeações para o Globo de Ouro.


   E tudo isto ainda se torna mais impressionante quando nos damos conta que “Wall-E” é quase um filme mudo. Após me ter apercebido disto, fiz uma breve pesquisa:

“O diretor Andrew Stanton afirmou ter assistido, com parte da sua equipa, a filmografia de Charles Chaplin e Buster Keaton, no período de um ano, para terem uma base de como desenvolver a narrativa do filme de forma inteligível, profunda, cómica e romântica sem usar palavras, isto sem perder os já citados temas filosóficos e a camada ecológica, tecnológica e religiosa (metáfora de Adão e Eva) que se sobrepõe ao enredo.”

   O final da história é um final feliz, a nave regressa à Terra e os humanos começam a cuidar do que um dia destruíram. Cultivando e mostrando amor pelo seu planeta. E claro, Wall-e e Eva ficam juntos e felizes.
   Este é um filme que nos deixa com as emoções ao de cima, mas também que nos revolta por sabermos que é uma realidade não tão distante e irreal. E acho que foi precisamente isso que Andrew Stanton quis transmitir, conseguindo na perfeição.


Alguns dos momentos que mais gostei: