Seleccionado para
o festival de cannes de 1995, gabbeh marca um novo caminho no cinema iraniano. Este
cinema, reconhecido na europa por Kiarostami, carrega consigo uma tenedencia
para nos fecharmos sobre o realizador de “O Sabor da Cereja “. Numa europa
autocentrada e pouco tolerante , a propensão é reduzir o “Outro”, o diferente
ao pouco que conhecemos (muitas vezes construções nossas, como o caso desta visão
do Orientalismo, baseada em ideias e mitos de que Edward Said fala) . Mas
Mokhamalbaf e os seus filmes abrem-nos caminho para extender o nosso olhar
sobre este cinema, este país e este universo tão diferente.
Gabbeh, na sua individualidade
própria não deixa de partilhar uma expressão identitária com o cinema de
Kiarostami. O desenrolar do filme acontece na simplicidade de momentos que
tecem o fio dos acontecimentos (não numa lógica de acontecimentos que criam uma
história) Em Gabbeh não se conta uma história
, mas celebra-se um modo de vida que contém em si uma e muitas histórias. Este filme
assenta num estilo que não é documentário nem ficção- é uma amostra da
realidade com subtracções e adições particulares. Gabbeh é um tipo específico
de tapete feito pelos nómadas do irão. Estes tapetes têm desenhos que
representam os pensamentos de quem os faz. O filme começa com uma imagem deste
tapete e termina com a mesma imagem – representando o começo e retorno ao
mesmo - num tempo circular que não segue
a linha contínua e evolutiva mas que se abre e ramifica em possibilidades e
histórias que retornam ao mesmo lugar – e onde tudo permanece imóvel, assim,
como é e está. O próprio filme é uma tapeçaria , um trabalho que contém vários
fios que se relacionam e formam uma peça – e que só de longe se percebe os
seus motivos .
O tapete
representa uma cristalização do tempo e do espaço- criação que o tapete absorve
e eterniza.
Makhmalbaf pretende
“tecer” o seu filme com este sentido , sendo os “fios” que ele usa momentos simples e pessoas que se cruzam e
formam este todo. Não há razão para este cruzar de fios. Simplesmente esta junção
cria historias que vendo à distancia ganham sentido. O nome da personagem
principal também é Gabbeh – ela própria se dissolve no tapete, e este absorve
os seus pensamentos. Os momentos que
esta jovem passa com dois membros mais velhos da tribo são uma lembrança da
possibilidade de amor perdida no passado. Esta rapariga tem um pretendente que
a segue de local em local pronto para a resgatar. Mas a proibição do pai mantém-na agarrada ao medo e impedem-na de
fugir. O admirador vai aparecendo do nada, nas montanhas e planaltos
relembrando a angústia de um amor não concretizado. Ao fugirem finalmente um
dia, o pai dela mata-os logo confirmando
esta impossibilidade de que já todos estavam cientes.
Mas é esta
redençao Às coisas simples , o arriscar fugir porque sim, o não ter pretensões
nem objectivos maiores que o filme expressa tao bem.
A sensibilidade
do momento em que o professor demonstra aos alunos a distribuição das cores do
mundo – uma autentica celebração da vida como ela é – visitando a pureza das
cores das coisas : “o céu é azul e o sol é amarelo “ É um momento tão simples
quanto o tecer de um tapete.
Na última cena do
filme há uma cena com o tapete com as
cores e histórias dos dois amantes fugitivos. Momento cristalizado que marcam
um não acontecimento (real no tapete ) perdido no tempo.

