“O Corcunda de Notre-Dame” é um filme de animação, produzido
pela Walt Disney Animation Studios e distribuído pela Walt Disney Pictures
em 1996, inspirado no livro de Victor Hugo “Notre-Dame de Paris”. Aborda temas como o infanticídio, a luxúria, a condenação, o
genocídio e o pecado e é, no entanto, um filme para crianças.
Este é, a meu
ver, um filme brilhantemente bem conseguido por abordar estes temas mais
complexos de uma forma tão subtil ao ponto que as crianças não se apercebem
delas, ou seja, não compreendem exatamente o que tratam, não deixando, no
entanto, de compreender a história narrada.
Eu vi este filme quando era pequena e lembro-me de gostar muito
dele, mas só mais tarde, em 2015, quando fui com os meus pais e irmãos a Paris,
onde visitámos a catedral que serve de palco desta história, é que despertou em
mim e aos meus irmãos a vontade de rever o filme. E assim foi. Mal chegámos a
Portugal, sentámo-nos no sofá em casa e vimos “O Corcunda de Notre-Dame”, e a
nossa impressão do filme foi completamente distinta.
Em pequenos era-nos contada a história de um sineiro corcunda que
vivia dentro da catedral de Notre-Dame sob a proteção de um juiz chamado
Frollo, claramente o mau da fita, que não o deixava ir à rua por ser “disforme
e aleijado” e que as pessoas nunca o iriam aceitar por isso mesmo. Um dia, o
corcunda resolve sair à rua sem a autorização de Frollo para poder sentir só
por uma vez o que é ter uma vida normal sem estar fechado. Acontece que nesse
dia estava a decorrer um desfile onde as pessoas se mascaravam de coisas feias
e, nessa sua aventura, conhece uma cigana muito bonita chamada Esmeralda que
não o julga por pensar que a sua cara era uma máscara. No decorrer do evento
todos percebem que não era uma máscara e que a cara do corcunda era mesmo assim
deformada. Todos o criticam e humilham, e só Esmeralda o protege. Frollo, que
assistia a tudo, mandou que se perseguisse a cigana por ter defendido o
corcunda numa situação e que este fora contra as suas ordens e também pelo simples
facto de ser cigana, etnia que ele repudiava. E toda a narrativa se passa à
volta disto, da fuga de Esmeralda a Frollo.
No entanto, ao rever o filme uns anos mais tarde, apercebemo-nos
de coisas que sempre lá estiveram, mas que jamais seriam compreendidas por uma
criança. Este rapaz que morava na catedral é um órfão, pois Frollo matou a sua
mãe e mandou perseguir o seu pai por serem ciganos. Ia matá-lo a ele também, em
bebé, atirando-o para um poço, mas um padre que o faz perceber as suas atrocidades já
cometidas, dá-lhe como única esperança de salvação da sua alma, cuidar da criança,
como sua. Frollo
concorda, desde de que a criança fique escondida da população de Paris a viver
no campanário da catedral. O menino cresce a desempenhar a função de
sineiro, função essa que vai ser a causa da sua corcunda. Frollo dá-lhe o nome
cruel de “Quasímodo”, que significa “o deformado” e educa-o a pensar que é um
monstro. Quasímodo torna-se a personificação dos pecados de Frollo, que apesar
de juiz é tudo menos justo, pois persegue e mata os ciganos e vive para
satisfazer os seus prazeres. É aí que aparece Esmeralda, que ele manda perseguir
não só por ser cigana, mas porque se sente sexualmente atraído por ela e a
deseja ferverosamente. Chega a fazer-lhe um ultimato, dizendo-lhe que ou se
rendia a ele ou então ele a mandava para a fogueira com falsas acusações de
bruxaria. Esmeralda recusa e foge, e Frollo enlouquece enviando buscas para a
encontrar por toda a cidade de Paris, queimando as casas das pessoas que
albergassem com eles ciganos refugiados.
A história acaba com Quasímodo a salvar Esmeralda da fogueira e com
Frollo a cair do alto da torre da Catedral de Notre-Dame morrendo queimado nas
chamas provocadas por ele que consumiam a cidade.
Este é sem dúvida um filme que recomendo a todos que nunca viram,
verem, e a todos os que já viram, que tal como eu o revejam, por ter tanto
conteúdo que nunca imaginámos estar presente num suposto filme infantil. O que
é que este filme ensina ou mostra a uma criança e a um adulto? A uma criança a
injustiça dos maus que querem fazer mal aos bons, mas haverá para um adulto
ainda esses dois conceitos do “Bom” ou do “Mau”?