A exposição Vulcano, da antiga aluna de Belas artes Maria Leonardo, explora a a natureza entre realidade e ficção do espacial e desconhecido numa exposição fotográfica e audiovisual na Casa da Cultura, em Setúbal.
A obra inteira esta dividida em elementos emoldurados fotográficos, componentes físicos e uma apresentação audiovisual apresentada numa sala à parte.
À entrada na exposição o espetador é imediatamente saudado com fotografias de grande tamanho cuja natureza tem uma aparência de terem sido captadas em terras extraterrestres e inabitadas. Todos os cenários partilham em comum a mesma aparência poeirenta e isolada que apresenta sinais de nenhuma interação de vida humana, animal ou vegetal. A apresentação destes, contudo, não tem nenhum carácter enfadonho nem repetitivo pois apôs uma inspeção mais demorada verifiquei um uso de uma grande variedade de cores contrastantes que, mesmo que sugerissem um cenário fora do terrestre, continham uma sobriedade calculada que mantinham estes ainda no espetro da realidade ao invés do fantasioso. Quanto mais tempo passava focada em elementos em particular, mais detalhe descobria que tornava cada peça um singular em vez das obras todos se fundirem num elemento único e inesquecível. Todos os elementos fotográficos apresentavam imagens de terra com diferentes texturas, algumas com uma aparência rochosa, árida e cortante enquanto outros mostravam imagens de areia cujo aspeto dava a sensação de ser suave ao toque.

Os elementos físicos, poucos em comparação com a quantidade de fotos, mantinham-se espalhados pela exposição e apresentados em pequenas placas de espelho. Esta decisão artística foi ignorada por mim num encontro inicial mas quando me aproximei mais para inspecionar, notei que a função do vidro era dar as rochas apresentadas um aspeto de estiverem a flutuar num espaço da galeria, e conclui com a curta alegria de ter desvendado um mistério que esta funcionava assim com mais harmonia no tema geral da exposição.

Ao continuar mais para o interior da exposição dei-me ao encontro de uma sala submersa na escuridão em tudo para além da entrada e de imagens projetadas. Este apresentava uma curta metragem de um filme que se focava nos mesmo elementos das fotografias, terras áridas e inter-espaciais, mas apresentadas agora em movimento. O foco continuava na utilização de cores não-naturais para a terra mais comumente conhecida, e nas texturas dos cenários apresentados, contrastando rochas e poeira com a liquidez da lava e das nuvens de fumo representadas em momentos diversos. O filme eram acompanhado com uma composição sonora que vim mais tarde a descobrir eram sons espaciais do arquivo da NASA.
Propositalmente virada para os visitantes que se digerem para a saída, encontra-se uma parede com elementos históricos de estudo e descoberta espacial que se destacam da exposição pela sua natureza diferente. Descobri no meios destes elementos um excerto de jornal com referencia a Vulcano, cuja informação aponta para este ser um planeta localizado entre o Sol e Mercúrio. A minha hipótese inicial antes da minha visita fez-me assumir que a exposição focava-se em cenários vulcânicos, como o nome indica. Toda a aparência árida, quente e desolada apontava para esta realidade mas o encontro com elementos de caráter espacial fez a minha visão da exposição inteira mudar por completo. De repente, no meio da sala principal, reparei também que a obra áudio ecoava pela exposição por inteiro e proporcionava ao expetador uma atmosfera de alienação e do desconhecido que senti desde o inicio mas que só começava a notar agora.
Após a minha conclusão da visita, decidi pesquisar sobre a existência e origem de Vulcano. Ao verificar que o processo de porielio de Mercúrio não seguia as leis da física mecânica de Newton, astrónomo Urban Le Verrier, numa tentativa de explicar essa ocorrência, presumiu a existência de um pequeno planeta entre Sol e Mercúrio. Após ouvir o testemunho de um astrónomo que confirmava avistar a existência da massa hipotética, foi anunciado á Academia de Ciência a descoberta de um novo planeta cujo fora denominado de Vulcano. Após a publicação da Teoria da Relatividade de Einstein, que introduziu novos conceitos de tratamento de tempo e do espaço, foi explicada a deformação orbital de Mercúrio e o planeta Vulcano nunca foi encontrado pelo motivo de não existir de todo. O projeto exige apenas fotos de uma ilha vulcânica a norte de Sílica.
Sinto que ter feito a descoberta do motivo original atrás da exposição posteriormente ao ter testemunhado a exposição em si fez desta uma experiência de lenta descoberta e constante acumulação de hipóteses ao invés de ser apenas uma galeria de fotografias de imagens vulcânicas, levando assim a um gradual interessa pela minha parte pois o caminho para a descoberta foi mais satisfatório que a descoberta em si. Dito isto, não estou a criticar o tema em si. A junção da realidade cientifica e a imaginação artista é um motivo de grande interesse pessoal pois remete muito a criação de obras sci-fi.
Vulcano assim, para mim, não foi apenas uma colecção de fotografias mas uma curta experiência de reflexão e descoberta, semelhante até a uma espécie de storytelling, que remete muito as sensações que poderiam estar em causa quando a descoberta deste novo planeta estava em hipótese. Isto, muito para além da apelação do aspeto visual, mantêm a exposição na memoria através do espaço que oferece para a especulação do que poderia ter sido Vulcano e o prazer de relacionar vários dos seus aspetos ao tema recorrente.





