O Inspector é uma comédia de Nicolai GoGol que
estreou a 19 de abril de 1836, em São Petersburgo (Rússia), na presença do próprio
czar. Esta peça de teatro aborda a realidade de uma aldeia que descobre que será
alvo da visita de um inspetor, anunciada por carta a um presidente da câmara.
Apesar da história se passar no século XIX, a peça permanece moderna, pois
critica a política, a corrupção e, até, a passividade da população em relação a
estes acontecimentos.
Durante muito tempo fiz parte de um
grupo de teatro e, para mim, o teatro é a vida e a vida é o
teatro. A vida real é aquela que sentimos pulsar todos os dias e quando, no
palco, sentimos essa vida real a pulsar, ficamos com a sensação de não sabermos
onde começa a vida real e a ficção. Isto, asseguro vivamente que se sente na
interpretação desta peça pelo Grupo de Teatro Arte Viva do Barreiro (Setúbal),
encenada por Jorge Cardoso.
Esta
interpretação é mais um pretexto para pensarmos sobre o contexto dos tempos em que
vivemos, assim como quem escuta, vê ou vive, por dentro dos dias ou da memória,
“(…) uma história que podia ter acontecido (…) há muitos anos…”1
aqui, no nosso país. Esta peça remete também para a conflitualidade entre o ser
e o parecer e vice-versa, onde, o importante, é, afinal, manter a ilusão e
sobreviver no sistema (o que, infelizmente, continua bastante atual e
certamente assim continuará durante muitos mais anos).
É de referir a sensação que aquele cenário transmite: algo vivo e intenso, como quem olha para um quadro esvaziado de madeira, que serve de mera decoração para o encenador colocar as suas personagens, dando-lhes formas e personalidades num contexto que se divide naquele mundo – o quadro esvaziado - e o outro, uma espécie de ringue – “grade” ou “gaiola” colocado ao centro do palco -, onde as personagens entram, saem, mexem-se, remexem-se e “mergulham” por dentro de si mesmos e fazem emergir as suas conflitualidades, temores, decisões e indecisões.
É de referir a sensação que aquele cenário transmite: algo vivo e intenso, como quem olha para um quadro esvaziado de madeira, que serve de mera decoração para o encenador colocar as suas personagens, dando-lhes formas e personalidades num contexto que se divide naquele mundo – o quadro esvaziado - e o outro, uma espécie de ringue – “grade” ou “gaiola” colocado ao centro do palco -, onde as personagens entram, saem, mexem-se, remexem-se e “mergulham” por dentro de si mesmos e fazem emergir as suas conflitualidades, temores, decisões e indecisões.
Aquele
“quadro de madeira esvaziado” dá uma beleza muito especifica ao cenário e
proporciona uma dimensão visual que permite viajar entre o realismo de uma
paisagem distante, e, ao mesmo tempo, coloca-nos naquele lugar, o espaço
cénico, onde mais de uma dezena de personagens se movem, agem e saltam para a
vida, deslumbrantes, pintadas de um colorido expressivo, que se sente num guarda-roupa
da época que dá às personagens a sua própria autenticidade.
Relacionando duas grandes paixões pessoais – o teatro e a pintura- posso afirmar que, cada cena é, notoriamente, um quadro que o encenador “pinta” e atribui vida aquele cenário de madeira clara; como se um pintor criasse uma série de quadros relativos a uma determinada história, que este, pretendesse contar.
Depois, aquela ”grade/gaiola” preta e metálica centrada no palco, o ringue dos conflitos psicológicos, é, sem sombra de dúvidas, o símbolo do sistema que aprisiona as personagens, de todos os sistemas – judicial, saúde, ensino, as comunicações, o poder politico - tudo é marcante naquela «prisão» de vida e de vidas.
Esta é estruturante do espetáculo, e, afinal, também estruturante da realidade. O pulsar do texto no contexto – o sistema.
Uma peça onde cada personagem é um elemento figurativo da realidade. Toda incrivelmente interpretada, com expressão corporal e uma dicção que permite até sentir as palavras como se estivéssemos de facto a viver o momento no século em que GoGol escreveu a peça, em São Petersburgo. A interpretação magnífica dos comportamentos das personagens, os tiques ou até características especificas são, de facto, aspetos que não poderia deixar de referir.
Relacionando duas grandes paixões pessoais – o teatro e a pintura- posso afirmar que, cada cena é, notoriamente, um quadro que o encenador “pinta” e atribui vida aquele cenário de madeira clara; como se um pintor criasse uma série de quadros relativos a uma determinada história, que este, pretendesse contar.
Depois, aquela ”grade/gaiola” preta e metálica centrada no palco, o ringue dos conflitos psicológicos, é, sem sombra de dúvidas, o símbolo do sistema que aprisiona as personagens, de todos os sistemas – judicial, saúde, ensino, as comunicações, o poder politico - tudo é marcante naquela «prisão» de vida e de vidas.
Esta é estruturante do espetáculo, e, afinal, também estruturante da realidade. O pulsar do texto no contexto – o sistema.
Uma peça onde cada personagem é um elemento figurativo da realidade. Toda incrivelmente interpretada, com expressão corporal e uma dicção que permite até sentir as palavras como se estivéssemos de facto a viver o momento no século em que GoGol escreveu a peça, em São Petersburgo. A interpretação magnífica dos comportamentos das personagens, os tiques ou até características especificas são, de facto, aspetos que não poderia deixar de referir.
Em
suma, esta interpretação do Clube de Teatro Arte Viva encenada por Jorge
Cardoso foi formidável. Uma peça extremamente divertida e bem conseguida. Recomendo
vivamente a quem gosta de se deixar levar pela magia de um bom espetáculo e a
todos aqueles que pretendem sentir verdadeiramente no teatro, o pulsar da vida.
1 Citação presente no folheto
informativo que foi entregue à porta da sala de espetáculos, momentos antes do inicio da peça.
