QUICKSAND, de NIKOLAJ BENDIX SKYUM LARSEN,
feito em colaboração com Duncan Pickstock e Mikkel H. Eriksen.
no contexto da
exposição TENSÃO & CONFLITO. ARTE EM VÍDEO APÓS 2008, no MAAT, de 13 de setembro de 2017 a 19 de Março de 2018
A obra “QUICKSAND” (2016), de Nikolaj Larsen, feita em colaboração com Duncan Pickstock e Mikkel Eriksen, encontra-se em exibição no MAAT, fazendo parte da exposição “TENSÃO & CONFLITO. ARTE EM VÍDEO APÓS 2008”. Esta exposição é focada na vídeo-arte, que se revela um meio de expressão artística cada vez mais popular entre os artistas contemporâneos. “Tensão & Conflito” reúne, na Galeria Principal e na Video Room, uma seleção de representações artísticas que recorrem ao vídeo para registar os impactos e as consequências da crise financeira global de 2008. Numa exposição que transforma o museu numa sucessão de espaços fílmicos, estas obras tanto apropriam protestos e notícias do quotidiano, como visões poéticas que nos fazem repensar a História recente, de forma às vezes inesperada.
Nikolaj Larsen, nasceu a 1971, na Dinamarca, trabalha em diversos meios de forma a criar respostas visuais aos desafios da sociedade contemporânea, sendo a migração e a destituição de poder as suas principais temáticas. O artista ganhou reputação internacional como cineasta e artista de instalação de vídeo, mas paralelamente também trabalha com escultura, fotografia e fotogravura.
“Quicksand” é uma ficção de 21 minutos que conta a história de Jason, um homem que luta pela sua vida no Mar Mediterrâneo. Esta história passa-se em 2023 e retrata o que poderia acontecer se um grupo de cidadãos britânicos, que querem fugir à distopia da Europa do futuro, decidisse fazer a travessia do Mediterrâneo de barco, para emigrar para o sul, revertendo, desta forma, a perspetiva da situação atual dos refugiados.
Na minha opinião, a obra expõe a temática dos refugiados com um olhar diferente. Em vez de utilizar imagens de violência, morte e sofrimento, como as que passam diariamente nos meios de comunicação, opta por uma abordagem visual menos direta da temática. Sinto que Nikolaj Larsen ao criar uma narrativa baseada na atualidade, mas que nos transpõe para um futuro que a inverte, leva o nosso imaginário mais longe, colocando-nos a perspectivar o destino. Considero que este é um dos pontos fortes da obra, a sua capacidade de balancear o real com a ficção, o que nem sempre é fácil.
O vídeo tem a particularidade de não exibir as personagens da história, mostra ao espectador apenas o que Jason vê à sua volta, o mar. Na maior parte do tempo apenas assistimos a imagens do mar e ouvimos as vozes das personagens ou algum tipo de relato. Desta forma, senti, enquanto espectadora, que estava na mesma posição de Jason e dos refugiados. Penso que esta opção é crucial na abordagem da narrativa, pois leva-nos a sentir o sofrimento e desespero das personagens, mantendo-nos presos à história e querendo saber o que vai suceder. Também a escolha estética do preto e branco e os seus fortes contrastes ajudam a criar o clima dramático.
O áudio é outro ponto forte da obra, ele traz muita da emoção que a obra perpassa. Por exemplo, quando ouvimos os gritos de socorro dos personagens em sofrimento misturados com o som das ondas do mar e não os vemos, não sabemos em que circunstâncias estão, ou quando Jason telefona à sua mulher para dizer que tem saudades e tenta explicar onde está; estes são dois dos momentos mais comoventes. As vozes misturadas com o som do mar dão uma expressividade à história que a torna mais emotiva.
Em “Quicksand”, a ausência de figura humana torna a obra singular, é um dos casos em que menos é mais. Este possível paradigma futuro que Nikolaj Larsen retrata transmite um sentimento de compaixão e não de piedade para com os refugiados, tocando mais o espectador, do que apenas o chocando com imagens de morte, que se tornaram banais.
Assim, desde os adultos a crianças, todos devem ir conhecer “Quicksand”, ao MAAT, pois é adequado a todas as idades e a todo o tipo de público, tem uma mensagem importante para todas as gerações, de forma a criar uma maior consciência social e humana sobre os conflitos da atualidade e o futuro.
