quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Sylvia




Sylvia
Bailado pelo Royal Ballet - Royal Opera House, 2004
Recensão

Trabalho para Cultura Visual I | Janeiro 2018
Ana Rocha Pires, #11218


Historial do bailado Sylvia

Em 1876 estreou na Ópera de Paris o bailado então denominado Sylvia, ou a Ninfa de Diana, baseado na música homónima criada nesse mesmo ano pelo compositor francês Leo Delibes (1836 – 1891). A coreografia era da autoria de Louis Mérante e a primeira bailarina foi Rita Sangall.

Uma segunda produção importante deste bailado teve lugar na Rússia em 1901 e foi apresentada pelo Ballet Imperial no teatro Mariinsky em São petesburgo. A coreografia ficou a cargo de Lev Ivanov que alterou o nome do bailado para apenas SylviaOlga Preobrajenska foi a prima ballerina. Não tendo sido um sucesso, a obra foi retirada do reportório do Ballet Imperial e alguns excertos passaram a ser incluídos em eventos vários.

Curiosamente a famosa bailarina Anna Pavlova incluiu alguns desses excertos na sua digressão mundial de 1902. À sua atuação em Londres assistiu o jovem Frederick Ashton, cujas memórias desse espetáculo e do desempenho de Pavlova o inspiraram na criação de uma versão renovada do bailado, destinada à sua musa Margot Fonteyn, em 1952.




Rita Sangall como Sylvia, 1876

Olga Preobrajenska como Sylvia, 190

Margot Fonteyn como Sylvia, 1952






 
  
Sylvia, pelo Royal Ballet, em 2004


 Darcey Bussel como Sylvia e Jonathan Cope como Aminta, 2004, Royal Opera House


Analisaremos aqui a versão do bailado Sylvia produzida pelo Royal ballet em 2004, na qual Christopher Newton reconstruiu a coreografia original de Ashton.

  Elementos de produção
Music: Léo Delibes
Sylvia: Darcey Bussell
Aminta: Roberto Bolle
Orion: Thiago Soares
Choreography: Frederick Ashton / Christopher Newton
Conductor: Graham Bond

   Papéis principais

·         Sylvia – Ninfa caçadora casta, leal a Diana, desejada por Aminta.
·         Aminta – Jovem pastor apaixonado por Sylvia (paralelismo com Endymin, também pastor que é o jovem amor de Diana).
·         Eros – Deus grego do amor, objeto de intensa veneração
·         Diana – Deusa grega da caça e da castidade. É no templo de Diana que tem lugar o bacanal do 3º ato.
·         Orion – Caçador malévolo que persegue Sylvia e a rapta.

Papeis secundários
·         Companheiras de caça  —Mulheres caçadoras de Diana
·         Cabras – Duas cabras vão ser sacrificadas como tributo a Baco, mas são salvas pela comoção provocada por Orion.
·         Naiads
·         Dryads
·         Faunos
·         Camponeses

Sinopse

O libreto do bailado é baseado num poema do século XVI da autoria de Tassso no qual Sylvia se apaixona pelo pastor Aminta, como consequência de várias intervenções de Eros e de uma provocação por parte de Orion.

1º Ato
Sylvia e as suas companheiras de caça voltam de uma caça bem sucedida, junto a um altar com uma estátua de Eros, deus do amor.  Sylvia goza com Eros, afirmando que não tem ..... para o amor.
Aminta, um jovem pastor, observa-a e apaixona-se. Este é encontrado e atingido por uma seta do grupo de mulheres. Nesse momento, a estátua de Eros ganha vida e atinge Sylvia com uma das suas setas, fazendo com que esta se apaixone por Aminta.
Entretanto Orion, caçador, rapta Sylvia.
Aminta é curado por um feiticeiro misterioso e sobrevive.

Este ato é caracterizado por um corpo de baile feminino, em que os movimentos tipicamente masculinos (petit allegro e tours), ilustram a força destas mulheres guerreiras.


2º Ato
Na casa de Orion, este tenta seduzi-la, oferecendo-lhe prendas e dançando com ela. Inicialmente Sylvia rejeita-o até ter a ideia de o enganar, embebedando-o e aos seus criados. Quando consegue fugir, não sabe para onde ir. Aí Eros, leva-a para junto de Aminta.

3º Ato
À frente do templo de Diana, acontece uma grande festa entre ninfas, faunos e cabras. Aminta participa na festa até Sylvia chegar, graças a Eros. Todos festejam até ao regresso de Orion, que luta com Aminta e Eros. Orion incomoda Diana e esta, atinge-o com uma seta.
Diana zanga-se com a Sylvia por esta se ter apaixonado, no entanto Eros lembra-a de quando ela sentiu o mesmo por um pastor chamado Endymin.
Assim, Diana dá permissão a Sylvia de continuar o seu amor com Aminta.

Este bailado tem a imensa mais-valia da marcação musical de Delibes, muito colorida e melódica, encantadora aos ouvidos. Christopher Newton introduziu algumas alterações ao nível da cenografia e da coreografia relativamente à versão de 1952 que facilitam a compreensão da história, elegante fantasia polvilhada de personagens míticas
Em termos técnicos é uma coreografia desafiadora para todos os participantes, com um ritmo rápido, quase brusco. Integra muitos saltos e “tours”, algo menos comum para as bailarinas (as ninfas caçadoras de Diana que executam formações invulgares) mas também bastantes “balances”, não fugindo à técnica clássica da Royal Ballet Company.
Este é um bailado em que são as mulheres que decidem, que têm o poder, o que se evidencia desde a cena inicial em que Sylvia e a sua companheira de caça entram triunfantes carregando a carcassa de um veado até ao momento em que a deusa Diana acerta no vilão da história com uma única seta letal.
A personagem principal Sylvia, criada por Ashton, é uma personagens mais surpreendentemente amplas do mundo do ballet clássico. Profunda, versátil e imprevisível, passa de poderosa caçadora no Ato I (qual Valquíria, gozando descaradamente com Eros),  para a mulher inteligente e engenhosa no Ato II (que engana e embebeda Orion, conseguindo escapar dele) até à jovem apaixonada da cena final.  É uma mulher não passiva, uma orgulhosa amazona que quando, no “grand pas”, se une novamente a Aminta, não perde a sua força, revelada nas piruetas e saltos que realiza.



Referências Bibliográficas

Royal Opera House, The Royal Ballet, A Colletion DVD Set, Londres

Anderson, Zoac, Sylvia, Royal Opera House, Independent, Londres, 2004. Disponível em: http://www.independent.co.uk/arts-entertainment/theatre-dance/reviews/sylvia-royal-opera-house-london-19327.html
Mackrell, Judith, Sylvia, The Guardian, Londres, 2004. Disponível em: https://www.theguardian.com/stage/2004/nov/05/dance1   

Royal Opera House, Sylvia. Disponível em:  http://www.roh.org.uk/productions/sylvia-by-frederick-ashtonSylvia