quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Recensão: Um Homem do Futuro


        Um homem no futuro é um filme brasileiro escrito e dirigido por Cláudio Torres, com uma grande ambição em seu roteiro, uma vez que o filme possui elementos de viagem no tempo, realidades paralelas e futuros alternativos é de se imaginar uma estória complexa e de difícil entendimento, contudo a obra conduz o espectador de forma suave dissolvendo a dificuldade com pitadas de humor e de referências a cultura brasileira da década de 90, além de se ambientar em um plano de fundo universitário que aproxima principalmente o espectador jovem da obra. Os conceitos científicos complexos de física quântica acabam por se diluírem em metáforas que flertam com os sentimentos e emoções humanas, aproximando-nos do desenvolvimento do roteiro e apresentando ideias interessantes apesar de não possuírem embasamento, como incluir o amor no desenvolvimento da equação geral do universo, contém também alguns paradoxos clichês em estórias similares, como a questão sobre mudar ou não o passado e o que acontece como arriscamo-nos a mudar o mesmo. 
Os atores são bem caracterizados, quando regressamos ao passado percebe-se a diferença na psique das personagens, como maturidade e modo de agir, apesar de que fisicamente eles conservam a mesma aparência o que não permite uma imersão total. As motivações são claras e creditáveis, em nenhum momento se indaga a atitude das personagens pois são compreensíveis, há arquétipos que são suavizados no humor e na ocasião em que estão situados, que criam por fim personagens concisos e que mesmo assim nos surpreendem. Com algumas personagens é difícil correlacionar a personagem do passado com a do futuro, o que pode confundir-nos em alguns momentos, porém não há ponto de nos desconectar da trama, que acaba por nos envolver. 
No começo somos apresentados a uma trama linear e com um objetivo fixo, a personagem principal João (Wagner Moura) procura voltar ao passado e desfazer a humilhação que sofreu de seus colegas de faculdade, procurando com isso também ficar com a personagem que ama, Helena (Alinne Moraes), sem muitas dificuldades ele acaba por mudar tudo encontrando seu passado eu, contudo acaba por acordar em futuro em que apesar de muito bem-sucedido financeiramente, ele acabou por se tornar um grande canalha, aqui vemos a pleno desenvolvimento da personagem que começa a compreender suas ações e o impacto delas, além de começar a reconhecer a importância dos acontecimentos ruins do passado e como eles construíam quem ele era (aqui temos o encontro do conflito maior da trama, a viagem no tempo e as mudanças no passado, com o conflito interno do personagem que queria mudar os fatos ruins que sucederam a ele), após perceber os erros que cometeu, João decide por voltar novamente e impedir as mudanças que ele mesmo fizera, quando acaba por voltar novamente, se depara por tentar convencer o eu que queria as mudanças, confrontando-o com seu futuro miserável e sendo a favor de deixar tudo como deveria ser, neste momento a narrativa se torna mais interessante pois começamos a perceber a conexão das linhas paralelas criadas, tudo começa a se conectar e por fim percebemos que desde o começo o paradoxo temporal já estava por interferir na narrativa, aqui vemos qual a "teoria" de viagem no tempo está embutida no roteiro, no caso temos a teoria de que na verdade tudo já tinha acontecido e que na verdade vemos apenas a jornada e que saímos do ponto A e retornamos ao ponto A, quando João acaba por solucionar os problemas, somos presenteados com mais uma pista de que o tempo inteiro o ciclo temporal já estava completo, com um flashback sobre a personagem Sandra (Maria Luísa Mendonça), neste momento é apresentado o motivo pelo qual a mesma é rica desde o início, João contou-lhe sobre o futuro e como ela deveria fazer para investir e ganhar dinheiro, por fim João acaba por ficar com Helena e apesar de tudo acabar bem, a curva da narração não é óbvia e somos surpreendidos. 
Enfim, a obra possui defeitos e é talvez demasiadamente simples, porém, acaba por nos prender através de surpresas e soluções não convencionais, além de possuir críticas a alguns elementos entranhados na sociedade brasileira, como corrupção, magnatas poderosos e a produção cientifica no pais, combinando uma excelente e complexa ideia bem desenvolvida, que se correlaciona com a realidade, uma combinação envolvente e empolgante que se prolonga por todo o filme.