quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Brideshead Revisited - Amor, Fé e Ursos de Peluche

Brideshead Revisited é uma mini-série britânica de 1981. Adaptando a obra de Evelyn Waugh, a série encontra um Charles Ryder (Jeremy Irons) de meia-idade, capitão de exército inglês em plena Segunda Guerra Mundial, revivendo o seu passado naquele que foi o edifício onde ocorreram os momentos que mais moldaram a sua vida adulta. É a partir daí que parte em flashback para os seus tempos de universitário, nos anos 20, onde conhece o excêntrico e posh Sebastian Flyte (Anthony Andrews). Ambos formarão uma amizade que até ao presente, Charles recorda como o seu primeiro grande amor.

É agora que ele começa verdadeiramente a viver, e os hábitos boémios de Sebastian influenciam-no, despertam-no e em muitos aspectos, libertam-no. Charles ganha a inspiração  que só lhe dará Sebastian (e partirá com ele também) solidificando-se como pintor. Num momento em que narra com arrependimento, após a visita de um primo que o encontra a exercer o seu novo lifestyle – com bastante álcool – Charles provoca-o deselegantemente e lamenta a resposta certa que nunca dera, à reprovação do familiar.

''I could tell him, too, that to know and love one other human being is the root of all wisdom.''

E esta frase será para mim, um motto para o percurso de Charles.

"I know of these romantic friendships of the English and the Germans. They are not Latin. I think they are very good if they do not go on too long." Diz-lhe uma das personagens a certo ponto na história. Ela via com precisão que a relação que Charles desfrutava com Sebastian, tal como a que existe entre duas crianças, chegara aos jovens britânicos mais tarde, depois da adolescência… e que anteciparia relações futuras – relações maduras. E é precisamente assim, que se torna percursora do amor entre Charles e Julia (Diana Quick), irmã de Sebastian, há medida que este se vai afastando da vida de Charles e caindo na tragédia.

Esta parte, no entanto, desenvolve-se bruscamente saltando para os anos 30 e apanhando-nos de surpresa na segunda parte da série, embora o terreno haja sido plantado sementes atrás ao longo da primeira: Charles afeiçoa-se aos causadores da angústia de Sebastian que são não menos que a sua família aristocrata, donos da mansão Brideshead.

“Sometimes, I feel the past and the future pressing so hard on either side that there's no room for the present at all.”

Os protagonistas são agora Charles e Julia. Mas mais que uma história de amor, esta é uma história de fé. O agnosticismo de Charles contrasta pesadamente com a extrema religiosidade da família Marchmain - e testemunha o seu catolicismo quase de forma alienígena. Julia é a encarnação deste peso.

Religião é a estrada onde se movem as personagens, desviando-se, orientando-se, questionando, afirmando, testando e rendendo-se ao longo da jornada. Todo um espectro da fé católica é nos apresentado. E a série flui, na sua cinematografia crua e estéril, arrastando-nos, deliciando-nos com personagens coloridas e diálogos frutuosos. Acompanhando os protagonistas e as posições em que o amor os coloca.