quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Fahrenheit 451


Adaptação cinematográfica do romance distópico de Ray Bradbury, Fahrenheit 451, tem como título A temperatura a que os livros entram em combustão. Este filme apresenta um futuro em que os livros são ilegais, e em que os Bombeiros se apresentam não como uma entidade que extingue incêndios e que presta ajuda a pessoas em situações de risco, mas sim como uma autoridade que se dedica à procura e aprisionamento de pessoas na posse de livros e à extinção, a partir do fogo, de todos os elementos literários em existência. 
De facto, durante o filme todo, não existe nenhuma representação de um governo autoritário, que suprime liberdades, mas este pode ser subentendido pela caracterização da personagem Linda, mulher do personagem principal Montag, e modo como ela vive. Percebemos, a partir da personagem Linda, que o governo fictício define o seu poder a partir de dois elementos: a televisão e a medicação. Linda, acredita em toda a propaganda que a televisão apresenta, ficando fascinada e passando os dias à frente desta. Já a medicação, pode ser subentendida, como a possível razão pela qual ela se lembrar de eventos importantes que aconteceram (não conseguindo desta forma formular sentimentos de oposição às forças do poder). 
Porém, o filme foca-se na vida de Guy Montag, e é esta história principal, que apresenta elementos muito pouco credíveis ou insuficientemente explorados como é exemplo o modo como uma simples conversa desta personagem com a sua vizinha Clarisse, o faz infringir a lei e roubar e ler um livro; também a relação de amizade que os dois constroem, é muito pouco substanciada. Igualmente, encontramos problemas noutros aspetos: o facto de Montag saber ler — porque é que ele sabe ler se para todos a leitura é proibida?; o facto de haver uma livraria dentro de casa de uma pessoa na cidade mas ninguém os ter  na floresta; a  forma como chegar à floresta é bastante fácil; ou mesmo o argumento principal do filme, que apresenta livros como elementos que nos fazem pensar, sendo que, todavia, muitos não surtem esse efeito no ser humano podendo a escrita ser utilizada do modo como o escritor quer, isto é, a escrita pode ser muito bem utilizada como meio de propaganda de um regime. Da mesma forma, a progressão do filme não é de todo bem explorada, uma vez que existe uma sensação de uma certa falta de vida no filme, globalmente, desde o modo como cenas de suspense são tratadas como simples acontecimentos, como por exemplo quando Guy vê Linda a sair de casa, ao modo como as personagens interagem e demonstram emoções, como por exemplo, a maneira como a personagem principal é apanhada no escritório do seu chefe. 
No que concerne ao seu final, apesar de se tratar de um elemento de ficção, este acaba por descredibilizar todo o filme (que já contém alguns problemas), levando-o de algo concebível a algo um pouco irrisório ou fantasioso, a partir da ideia de as pessoas que se encontram na floresta decorarem livros e se tornarem assim “pessoas-livro”. 
Com uma progressão lenta, que nos faz, ainda mais, questionar certos aspetos, este filme joga com elementos como a televisão e a medicação, que são ainda hoje elementos de controvérsia e de certo modo “temidos” e a ideia quase que perturbadora da proibição de livros e a sua destruição a partir da queima, de modo a criar uma realidade que nos tenta apenas chocar e não repensar alguma questão moral.