quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

Recensão da Obra Literária "Só Nós Dois" de Nicholas Sparks


Dados da obra:
1.       Titulo do Livro: “Só Nós Dois”
2.       Autor: Nicholas Sparks
3.       Editora: Willow Holdings
4.       Cidade de Edição: Nova Iorque
5.       Ano de edição: 2016
6.       Traduzido por: Isabel Veríssimo
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Introdução:
Este trabalho tem como objetivo fazer uma análise critica e opinativa sobre o livro de Nicholas Sparks, “Só Nós Dois”, relacionando-o com o dia-a-dia das pessoas, e com a atualidade.
Inicialmente é realizado um pequeno contexto da obra; de seguida o livro é analisado com um olhar crítico, referindo todos os aspetos importantes que a constituem e, para além disso, a contribuição da mesma para a sociedade. Por fim, é referido o ponto de vista do autor e a sua inspiração, e o meu ponto de vista em relação a esta obra (opinião).
Breve Resumo da obra:
Na obra “Só Nós Dois”, é descrita a vida da personagem principal – Russel Green. Este tem trinta e dois anos, e é casado com Vivian – uma mulher lindíssima e dedicada à família. Para além disso, Russel tem uma filha encantadora e uma carreira de sucesso.
Apesar de o mesmo achar que a sua vida é considerada um sonho, de um momento para o outro, este perde a mulher para outro homem, mais o emprego, ficando a sós com a filha de seis anos, London. Pela primeira vez, percebe que não pode entregar-se à sua própria dor pois London depende agora unicamente dele.
O dia a dia com a filha é muito mais difícil do que alguma vez imaginara – cheio de escolhas, consequências e anseios. Ainda assim, isso torna-se, de uma certa maneira, gratificante.
 “Só Nós Dois” é um retrato da experiência simultaneamente aterradora e satisfatória de ser pai solteiro: dos desafios aos riscos, e, claro, às recompensas. Esta relembra-nos a importância dos laços de família.
Análise Crítica da obra:
Esta obra contribui imenso para entendermos melhor a atualidade uma vez que cada vez mais pessoas, se identificam com este tipo de situações: são tratadas mal (chantageadas psicologicamente – jogos psicológicos), são traídas e, tornam-se pais, ou mães, solteiros(as). Para além disso, surgem outros como as doenças, tema bastante falado mais para o final do livro.
Russel foi uma das pessoas que teve de aprender a lidar com todo este tipo de situações, num “curto” espaço de tempo. Anteriormente, ele era o único que trabalhava para a casa, uma vez que Vivian fez pressão para que pudesse ficar a tomar conta da sua filha recém-nascida – ela acreditava que para um melhor desenvolvimento da criança, a mesma devia ser totalmente educada pelos pais. O problema surgiu quando Russel perdeu o emprego e a sua filha London começou a frequentar a escola primária. Vivian então quis voltar a trabalhar, acabando por arranjar trabalho na empresa rival à que Russel trabalhava anteriormente.
Mesmo com pouco dinheiro, Russel decidiu formar, ou tentar formar a sua própria empresa, mesmo que a sua esposa não apoiasse essa ideia. Uma das coisas admiráveis desta personagem, era o facto de ele ser capaz de ouvir todas as criticas da esposa e, mesmo assim, continuar a amá-la da mesma maneira, desde o momento em que a conheceu.
Muitas das vezes Vivian, quando se sentia cansada ou frustrada do trabalho, usava todos os acontecimentos do passado para culpar Russel, mais concretamente, para o fazer sentir culpado. Chegou ao ponto em que o acusou de ele a ter obrigado a deixar o seu emprego, para ficar a tomar conta de London quando a mesma nasceu, sendo que isso jamais seria verdade. Apesar disso, a personagem chega a um ponto em que se interroga a si mesmo se a culpa não havia sido dele; a sua mente é moldada à maneira de Vivian.
A irmã de Russel, Marge, sabia que algo se passava, mas o mesmo não se sentia à vontade para conversar sobre o assunto, apenas porque Russel não queria demonstrar o seu “lado fraco”.
Este tipo de situação acontece pelo mundo inteiro, não só com mulheres, como também com os homens, como se pode observar. O facto de as mulheres terem sido, durante tantos anos, denegridas pela sociedade, postas de parte e consideradas como pessoas sem qualquer capacidade levou a que, atualmente, estes casos se tenham invertido. Antigamente, apenas as mulheres se queixavam, mas agora já alguns homens o fazem. O maior problema é que o nível de expressão por parte deles, é muito inferior ao das mulheres. Isto acontece porque a sociedade diz que um homem não deve queixar-se ou chorar; por causa disto estes acabam por ter medo de dizer o que quer que seja aos outros, sobre a sua parceira, ou até mesmo sobre algo que os aflija.
A vida de Russel acabou por vir a piorar cada vez mais: agora era ele que tomava conta da sua filha, que a levava às atividades, que lhe dava banho e a penteava, algo que ele nunca havia feito anteriormente, mas que agora se encontrava encarregue de fazer uma vez que Vivian passava o tempo inteiro a viajar por causa do trabalho. Devido a esta situação, Russel acabou por formar uma relação muito mais estável com a sua filha, do que aquela que havia entre Vivian e London. Por parte de Russel existe um amor verdadeiro, contrastando com o amor de Vivian, que vê na filha o seu próprio espelho e vontade que a pequenita seja igual a si ou até mesmo superior. Então coloca-a nas mais diversas atividades, algumas delas que são odiadas pela mais nova:
"Hoje em dia, as crianças têm compromissos de manhã à noite e a London não era exceção porque os pais o exigiam.
Mas como é que isso aconteceu? E porquê? O que foi que alterou a perspetiva dos pais na minha geração? Pressão dos pares? Viver por delegação o sucesso de um filho? A criação de currículo para a universidade? Ou seria apenas medo de que não fosse bom os filhos descobrirem o mundo sozinhos?
Não sei.
Porém, estou convencido de que houve uma coisa que se perdeu durante o processo: a alegria simples de acordar pela manhã e não ter absolutamente nada para fazer."
Com isto em mente, quando Vivian se encontra fora, Russel leva London a fazer atividades, nunca antes realizadas pela menina anteriormente, mas a sua esposa não quer que esta relação entre ambos não evolua mais, gerando uma discussão com Russel. O mesmo acaba por referir o facto de ela agora não se encontrar em casa, mostrando um pouco de dúvida em relação ao objetivo das viagens que Vivian realiza.
Mesmo afirmando que apenas se encontrava em viagem de trabalho com o seu patrão, qualquer um perceberia que algo de errado se passava; qualquer um, menos Russel – a sua mente tentava ao máximo não pensar no pior. Para além disso, o mesmo convencia-se de que Vivian era a mulher perfeita: ela nunca seria capaz de o trair, não depois de se terem casado e terem dito os seus votos de casamento. Com isto, ele torna-se numa pessoa subserviente a Vivian – fazia todas as vontades da esposa.
Ainda assim o inevitável acontece e Russel acaba por ficar sozinho com a filha, culpando-se pelo fim do seu casamento. O mesmo sobrevoa as suas memórias para ver em qual das partes é que errou com Vivian, tentando arranjar desculpas para a sua ex-esposa.
Com o apoio dos pais, da sua irmã e da sua cunhada, e claro, com a presença da sua filha, Russel vai conseguindo ultrapassar este momento desgostoso.
A verdade é que hoje em dia, muitas pessoas não são apoiadas devidamente – ou porque grande parte das famílias não sabe como fazê-lo, ou porque realmente não existe ninguém que as possa apoiar. E esta obra chama a atenção desse assunto: algo que nunca faltou a Russel foi o apoio por parte da sua família.
Apesar disso, Russel eventualmente procura apoio de outra forma: a personagem reencontra alguém, pela qual se apaixona novamente, mas mesmo assim, ele não é capaz de deixar o passado totalmente para trás. O mesmo ainda se pergunta se Vivian vai dizer algo sobre aquele relacionamento; se ela pensa em voltar para ele; se ela o vai dissuadir daquela relação que se está a formar. Ainda assim, consegue sobrepor os seus sentimentos aos seus pensamentos, mais no final do livro – parte em que outro assunto bastante importante se encontra por vir: o cancro.
A maneira como Sparks chega a este tema é de forma bastante subtil: começou apenas por dizer que Marge apareceu com alguma tosse – todos achavam que não passava apenas de uma constipação – até que essa tosse começa a piorar, mas as palavras que o autor usa, apesar de nos levantarem algumas suspeitas, não são as suficientes para perceber que algo está mal. Só quando é afirmado que Marge tossia sangue, é que se ficou a perceber até onde este caminho iria levar.
Lidar com este tipo de situação é algo extremamente difícil, não existindo quaisquer palavras para descrever a dor sentida. Mesmo assim, o modo como toda a situação se encontra descrita, faz com que sejamos capazes de sentir a dor que as personagens se encontram a sentir.
Ainda assim, Russel encontra o que talvez muitas pessoas não encontram: felicidade. Grande parte da população que tem de viver neste cenário complexo acabam por se perder a meio do caminho e, para mim, o que este livro faz é, para além de expor a história das pessoas que precisam de ajuda e que ainda não se aperceberam de tal coisa, faz com que tenhamos um comportamento e pensamento diferente em relação a pessoas que experienciam situações deste género. Pode ser que, quando as pessoas lerem esta obra tomem mais medidas certas, de maneira a ajudarem os outros.
Estrutura da Obra:
A maneira como Sparks organizou esta obra e a escreveu, foi de uma forma bastante diferente e, talvez, um pouco ousada. Este já tinha feito várias vezes de narrador-protagonista, mas nunca realizou nada parecido com este tipo de situação. A verdade é que a maneira como o autor se coloca na pele de Russel e consegue escrever sobre algo que jamais havia experienciado, é algo deveras interessante e fantástico.
Sparks conseguiu fazer com que cada leitor fosse capaz de se submeter à mesma situação que a personagem principal se encontrava a vivenciar (pelo menos, falando por mim). É impressionante como cada parte da história, mesmo que sejam acontecimentos mínimos, é tratada com o maior cuidado e paciência, tornando-se assim na maior vantagem de ler o livro. Por exemplo, todas as descrições das personagens, dos espaços e das situações que cada um tem que saber lidar, conseguem mesmo levar a nossa mente até determinado sitio, fazendo com que sejamos capazes de conviver com as próprias personagens existentes no livro.
Não encontro qualquer tipo de desvantagem existente nesta obra – o texto encontra-se bastante organizado, com todas as informações corretas e nota-se bastante a procura, por parte de autor, pelas situações existentes neste livro.
Inspiração do autor:
Como pai de três rapazes e duas raparigas gémeas, o autor afirma que não poderia estar mais consciente das relações únicas que os pais têm com cada um dos seus filhos. Na obra “Só Nós Dois”, Sparks escolheu “mergulhar” no vínculo existente entre um pai e filha, explorando os desafios, riscos e claro, as recompensas.
O autor sublinha que “esta é uma história de amor incondicional”, existindo não só entre Russel e London, como também entre os membros de família que os cercam. Ainda refere que “Às vezes, a vida não funciona como planeado, mas é como nós damos cada passo em frente, como consertamos ou quebramos os laços, que pode definir o nosso futuro.”. Este romance permitiu ao autor examinar as reservas emocionais que cada um tem nas famílias e como podemos fortalecê-las com o tempo.
Sparks decidiu escolher a cidade de Charlotte, situada em Carolina do Norte, devido ao sentimento de local perfeito para que os casais caminhem e as famílias passem tempo juntas. Este sitio inclui boutiques e cafés que preenchem ruas arborizadas; edifício da fábrica vintage; é onde os grandes estados do sul se misturam com os melhores museus; para além disso, é onde se situa o Hall of Fame da NASCAR, tornando Charlotte em um dos melhores locais para fazer laços familiares.
Opinião Final:
Já há bastante tempo que não pegava num livro de Nicholas Sparks, mas depois de ter lido a sinopse e as primeiras páginas de “Só Nós Dois” fiquei completamente rendida à história de London, Vivian e, principalmente, Russel.
Sem dúvida que esta foi a melhor obra que alguma vez li do autor. Apesar de todos os trabalhos realizados pelo mesmo, sinto que todas as situações que compõem este livro foram muito mais bem abordadas.
Este é bastante mais do que um romance com uma história “lamechas” a que o autor nos tem vindo cada vez mais a habituar, como o “Diário da Nossa Paixão”, “Corações em Silêncio” ou “Uma Promessa para toda a Vida” – que expõem, maioritariamente, o romance entre duas pessoas a desenvolver-se. O seu último livro é realmente tocante uma vez que aborda vários temas como amor, traição, dedicação a um filho, doença... Esta obra levou-me a experienciar imensas emoções: consegui compartilhar da tristeza de Russel, irritar-me em diversas partes com a Vivian e enternecer-me com toda a dedicação de Russel pela sua filha.