Lançando em 2017 e dirigido por
Darren Aronofsky, Mother! levou a utilização
do simbolismo na arte cinematográfica a um outro nível. Devido a isso, existem incalculáveis
possibilidades de interpretação desta obra, conforme o pensamento e as
vivências de cada espetador.
O lado literal deste filme é
bastante simples. Passa-se, unicamente, numa casa. Retrata a história de um casal que se mudou, recentemente,
para lá. Ele é um poeta sem
inspiração e ela a clássica figura feminina,
criada pelo pensamento machista, a mulher perfeita, que se responsabiliza pelas
‘pequenas’ tarefas domésticas e é inteiramente dedicada ao seu amado marido.
Para além disso, ela ainda se encarrega
da reconstrução daquela vivenda, que ardeu num incêndio. A ação em si começa a
desenvolver-se mais quando surgem novas personagens, no início separadamente, depois
em multidões. Porém, o lado literal deste filme não é, definitivamente, o seu
foco principal.
Pessoalmente, interpreto este filme
como uma metáfora bíblica, todavia em determinadas circunstâncias, também se
aplica a outras religiões. Assim, Ele é
Deus e ela é a Mãe Natureza, a casa o planeta Terra. Desta forma,
Aronofsky apresenta-nos a ideia de que Deus terá criado o Mundo várias vezes,
tal como um poeta pode fazer com um poema. Com o passar do tempo, pode-se compreender
o tipo de relação entre as duas personagens principais, enquanto que ela está completamente apaixonada e
dedicada ao marido, os sentimentos não são recíprocos e Ele egocêntrico, frio acaba por a desvalorizar e rebaixar. Quando a
terceira personagem entra na narrativa essas caraterísticas tornam-se impossíveis
de ignorar, pois Ele convida o novo
desconhecido a ficar ali o tempo que precisar sem nunca discutir o assunto com ela, impondo-o nas suas vidas. Com a
presença deste indivíduo, o simbolismo da personagem
feminina torna-se mais destacado, pois o sujeito fuma, poluindo a sua casa [Planeta] e ela [Mãe Natureza] demonstra o seu
descontentamento, e proibi-o de tal. No desenrolar da ação, imensas novas
personagens são introduzidas e a casa vai sendo destruída. Entre toda essa
destruição, há uma inundação, todos aqueles
novos ‘conhecidos’ vão embora, e a frase “We are being punished.” (“Estamos a
ser punidos.”) é proferida – isto é a representação da história bíblica da Arca de Noé, onde o homem é punido pelos
seus erros, através da inundação do Mundo – nos meses seguintes, a casa é,
totalmente, reconstruída – tal como a Terra o foi na narrativa. A partir daí,
tudo pareceu melhorar, ela engravida,
como consequência, ele encontra a
inspiração para os seus poemas, e eles são publicados. O desfecho final aproxima-se.
O Poeta torna-se num ‘profeta’ adorado,
os fãs começam a aparecer, e mais uma vez, invadem a casa. Tudo se repete, mas num ritmo de tirar o fôlego e de um modo mais
cruel. Estes fanáticos começam a perder o foco principal que o Poeta desejava transmitir com as suas
obras, porém continuam a usá-lo com justificação para os seus atos selvagens –
tal como, acontece atualmente nas várias religiões – surgem, também, novos grupos
contra ele e um cenário de guerra é
montado naquela casa – a realidade
é retratada.
Uma onda de simbolismos inundou o
filme por completo, e chocou o mundo. Na minha opinião, Mother! é uma obra cinematográfica fascinante, extremamente
detalhada, que deve ser vista e revista ao longo da vida, porque a sua versatilidade
e riqueza de símbolos levará sempre, a uma diferente interpretação, sem referir
a excelente qualidade da fotografia, até à brilhante interpretação artística por
parte dos atores. Por outro lado, Aronofsky foi bastante agressivo na
transmissão da sua mensagem, sendo este um dos muitos motivos que levaram às
críticas negativas, no entanto, o ser humano precisa dessa violência visual
para começar a refletir mais profundamente no estado da sua ‘casa’.

