Algo diferente, como dizem, algo diferente..
Na Casa das Histórias, muitas se contam, havendo uma certa continuidade no registo que nos acompanha entre cada uma delas. A exposição é composta por váriaos quadros que assumem formas realistas mas com distorções da realidade em si, com a substituição de figuras humanas por animais, ou pela representação de humanos de formas peculiares. Ao caminhar pela exposição, os rumores são muitos devido a tais representações que podem assumir significados brutos e agressivos, estranhos ao olho comum, “terá a artista sido maltratada em criança”, de certo que muitos dos observadores o sussurravam, mas o que tendem a não ver, é o que está por detrás do obvio nos quadros de Paula Rego, o que está por detrás das figuras disformadas, destorcidas, o que revela as suas obras.
Ao observar uma das obras da coleção “Dancing Ostriches”, de 1995, reparava primariamente na posição das figuras, na forma indelicada como se pousavam, que de nada reflectia uma dançarina, aparentam estar torcidas sobre um cadeirão, em posições bastante incomodas ao olho uma vez que não transparecem grande conforto, não vão de acordo com os ideais de uma mulher delicada como maioria dos artistas tendem a ilustrar nas suas obras, e até as suas construções físicas se afastam do típico de uma figura feminina. Enquanto que as três figuras se apresentam sobre um ponto de equilíbrio que nos dá a ideia que terá de haver movimento após este momento estático, transmitem uma ideia de que haverá mais para observar do que aquilo se representa na obra, isto é uma característica que tem a tendência a acompanhar a grande maioria das obras expostas pela artista, há um mistério sempre por desvendar, algo que nos faz observar com mais profundidade embora, como observadores, sabemos que não irá ser descoberto, pois já teremos a noção de que a resposta não se apresenta na tela. A inquietação psicológica é grande, mas há sempre algo que nos transmite a ideia de segurança, a técnica. Após a observação de figuras fora do normal em posições desconcertantes, a técnica em si transmite uma certa calma, o pastel fora usado de forma a que registe movimento nas sombras e nos brilhos, mas tem um traço determinante a algo que reflecte apenas a mensagem que se pretende pela artista, não está traçado de forma agressiva, mas com continuidade, tracejados na mesma direcção, postos lá de forma estudada.
Uma vez observada a obra, vêm a sua descrição, a sua analogia com o mundo comum, que irá dar algum significado conceptual, a ligação a obras existente, neste casa “Fantasia” da Disney, ligação essa que por vezes é feita de forma literal, mas que no caso desta obra em si, foi aproveitada como uma ironia, as avestruzes que são bailarinas na peça, e as bailarinas de Rego que se comportam e tem uma vestimenta ligada a uma avestruz, pelas suas cores e penas. Por fim resta a conclusão do observador, aquilo que vê, aquilo que sente e aquilo que lê, forma-se uma nova visão sobre as hipóteses artísticas, enquanto que o mistério perdura nesta excepcional exposição.
