quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

"Get out" - recensão


         Get out e um filme realizado por Jordan Peele este é o primeiro filme realizado pelo actor norte-americano, que é mais conhecido pelos seus papéis na área da comédia, ou pela sua interpretação do anterior Presidente Barack Obama no programa “The Daily Show”.
         Um filme que na superfície é anunciado como pertencente há categoria de terror, comédia, mistério e suspense, apresenta uma construção mais profunda com a sua historia que atinge o tema do racismo ganhando no estrangeiro o titulo de “terror racial”.
         Apesar de não ser propriamente um filme de terror, Get out consegue um efeito muito desejado pelo gênero. Ao decorrer do filme, o espectador em frente do ecran permanece tenso. A competência em induzir o suspense é tão grande, que se torna quase inacreditável que o diretor e roteirista do filme, Jordan Peele, sendo um novata na indústria. Claro, Peele é um ator há muitos anos. Mas a sua área de atuação sempre foi o humor.

  Se a direção do filme é tão importante para induzir um estado de alerta constante, o incômodo maior deriva, certamente, das personagens. Ou, mais precisamente, do conceito que baseia a historia. 

        
        Este filme conta-nos a história de Chris um jovem fotógrafo negro que e convidado pela sua namorada branca Rose para conhecer os seus sogros. “Eles não são racistas”, garante Rose. E realmente não são, a definição de racismo mais usual parte do pressuposto do ódio. Apesar de todo um plano de fundo sinistro, a base dos conflitos, e do medo, é justamente a percepção da diferença entre as personagens. Chris só encontra pessoas da sua cor no papel de serventes. A família de Rose, e os amigos da família, brancos, tratam Chris o melhor que podem. Exaltam a sua naturalidade para se tornar um grande lutador. Interrogam sobre suas proezas sexuais. Fazem questão de afirmar a admiração por qualquer desportista negro que já tenha tido um destaque. O racismo, então, deixa de ser entendido apenas como o ódio e o nojo explícitos, uma faceta muito mais próxima da sátira do que da realidade. As entranhas de uma sociedade racista desdobram se justamente nos pequenos atos, que colocam o outro como objeto, ao invés de ser.

       
      A problemática central do racismo é justamente essa objetificação, que passa muitas vezes por elogio. E passa longe de qualquer possibilidade de punição, legal ou moral. É considerado natural apontar o negro como mais apto a desportos, e valorizar sua aptidão física. E isso ajuda a reduzir o papel do negro ao trabalho civil. É considerado natural reduzir também a negritude ao fetiche sexual. Também se sente a necessidade constante de reafirmar a empatia, ou mesmo o carinho direto, por figuras públicas ou próximas que sejam negras, como forma de afastar a ideia incômoda de que sejamos racistas.

       
     
      A genialidade de Get out está justamente em transformar esse tratamento recorrente na fonte do medo. No medo do protagonista, isolado em meio a uma branquitude que reforça a diferença e a separação, mesmo quando pretende elogiar. E mesmo o medo, e a excitação, da branquitude em lidar com o negro, exótico e distante, só válido pelo seu corpo superior, e não pela sua mente. Como um tigre, uma fera selvagem. Bela, mas distante, reduzida à condição de fera e, por isso, privada da sua humanidade. 

      Apesar de todos os elementos teoricamente absurdos presentes em Get out, o filme assusta mais pela sua semelhança com a realidade.


Get out IMDbhttp://www.imdb.com/title/tt5052448/