The Handmaid’s Tale é uma série televisiva criada por Bruce Miller, baseada no romance de 1985 com o mesmo nome, de Margaret Atwood. A primeira temporada da série estreou em Abril de 2017 e, atualmente, a segunda temporada está a ser exibida.
A ação revolve em torno de uma autocracia religiosa que dominou os
Estados Unidos, cujo nome foi alterado para Gilead, motivada pela brutal queda
da taxa de natalidade. Neste país, mulheres são vistas como cidadãs de segunda
classe, e qualquer pessoa que tente fugir será castigada. Às mulheres férteis
dá-se o estatuto de “Handmaids” e, depois de serem despojadas da sua vida, nome
e identidade, o seu único propósito passa a ser ter filhos. A série acompanha a
personagem June, uma Handmaid que resiste a este regime enquanto tenta,
simultaneamente, assegurar a sua sobrevivência.
The Handmaid’s Tale é uma espantosa obra televisiva, com a capacidade de deixar o espectador sem fôlego e provocar-lhe sentimentos de revolta e emoção como poucas outras conseguem. Isto porque, para além do seu aterrador enredo, a série está inserida numa época em que, finalmente, assuntos como os direitos da mulher começam a ser alvos da atenção dos media. Ainda que fictícia, a obra não deixa de criticar questões sociais tão reais como controversas, como a homofobia, o abuso sexual, o racismo, a prostituição e até a pedofilia.
A série é assumidamente feminista e a segunda temporada, especificamente, aborda a importância e a essência do movimento. Do mesmo modo, existe uma certa influência da obra nos movimentos sociais: quando Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, foram vistos na Marcha das Mulheres, em Washington, cartazes que faziam referência à história, exibindo frases como “Make Margaret Atwood Fiction Again” e uma expressão retirada do livro: “Nolite te bastardes carborundorum” (“Não deixes os bastardos esmagarem-te”).

Numa sociedade absorvida pela media, uma série como The Handmaid’s Tale tem uma importância maior do que se presume. O aspeto que faz o coração do espectador acelerar e lhe dá arrepios, aquilo que realmente o incomoda, é o quão possível a trama da série se traduz. O cenário, por mais radical e absurdo que pareça, nunca se personifica como uma impossibilidade, pois sabemos que vivemos numa sociedade patriarcal na qual os homens estão, indiscutivelmente, no poder – e esse foi o único aspeto realmente necessário à criação de Gilead.
The Handmaid’s Tale é uma série que tem de ser vista e revista, tem de ser ponderada, mas, principalmente, tem de ser discutida. O que distingue esta de muitas outras séries de televisão feministas é que ela não se limita a levantar as perguntas: declara respostas, propõe soluções, e está determinada a ser ouvida. É, para além de uma incrível obra artística, uma ameaça de revolução; e uma que precisa de ser levada a sério.